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Centro Educacional Jabuti, 26 de dezembro de 2043

Recebi mensagem da minha amiga Lívia, logo após o Dia de Natal. Provando que não há longe, nem distância, me presenteava com uma mensagem de fecho de ano e de agradecimento: 

“E quem diria que já estaríamos no Natal? Que esta data nos lembre o verdadeiro significado de estarmos juntos em nome do amor. 

Hoje, te convidamos a agradecer e celebrar a vida, honrando todos aqueles que deixaram esse plano, num 2020 tão cheio de desafios. 

Diante de todos os obstáculos aos quais fomos expostos, esse ano nos mostrou a importância do reaprender e nos ensinou que, juntos, podemos transformar o mundo. 

Agradecemos sua caminhada ao nosso lado nessa grande missão de sermos agentes de transformação! Gratidão! Seguimos juntos, sempre, por um mundo melhor! Muita luz e um Feliz Natal!”

Dizia-nos Biasutti que “a infância tem valor, não tanto como período de adestramento, mas como período em que se pode experimentar livremente aquela maravilhosa sensação de sermos nós próprios, que predispõe a aceitar melhor as inevitáveis limitações da vida adulta”. Na noite de 24 de dezembro de vinte e três, a Vovó Ludi vivia o seu primeiro Natal com a Analú, enquanto preparava o Natal do Joaquim. 

Com a Fernanda e o Tomás, aprestava os natais de crianças futuras. Alinhavava o primeiro encontro das ARCAs. Em janeiro, Caraíva assistiria a um renascer da fenix, pois chegavam sinais de recuperação de “fé pedagógica” e o amigo Renzo dirigia-se aos “imprescindíveis”:

“Seja quem e como você é, para surpreender um mundo ruim com seus atos de bondade. Continue!

Para plantar um beijo de preocupação na bochecha dos velhos e dos doentes. Continue!

Para deixar a gratidão ser o travesseiro em que você se ajoelha, ouse amar profundamente. Que o trabalho de suas mãos e a força de seu espírito sejam abençoados, enquanto todos continuamos. Continue!”

E continuávamos com ventos de bom augúrio, conjugando novos verbos: reconfigurar, regenerar, reelaborar, refundar… humanizar. Expressões como aquelas que ouvira, tempos atrás, provavam que havia quem recusasse a solidão de uma sala de aula e ousasse a solidariedade.

Em 1974, vivi uma Noite de Natal aparentemente solitária. Pressenti que algo iria perder. Mas, mais uma vez, confirmei que quem ama nunca está sozinho. Nessa noite, a Vida me privou da companhia dos meus familiares, para ficar dentro de um quartel, na companhia de alguns militares, que optavam por passar uma noite de vigília. Era preciso defender a “Revolução dos Cravos” daqueles que, na sombra, contra ela conspiravam. 

O Natal de setenta e quatro seria o último para a pessoa que eu mais amava: a minha mãe. Menos de um mês decorrido sobre essa solitária Noite de Natal, no fim de tarde mais triste de quantos me aconteceram, de coração corroído por uma vida de sacrifícios, serenamente deitada nos meus braços, a minha jovem mãe exalou o seu último suspiro.

O vosso avô ainda viveria a amorosidade companheira de outros natais, porque muitos seres humanos nascem longe de casa, e essa foi a minha sina, a de andarilhar. Até que, reencontrado o Amor, refiz a minha casa e, até hoje, nela fiquei. 

Perdoai o tom intimista desta cartinha. Hoje, deu-me para isto… Mas, reparai que escrevi Amor e Vida com letras maiúsculas. 

A Vida é um contínuo ato de Amor, ou não é Vida. O Amor é a única realidade. E a coragem de Viver é a sua tradução, celebrada no Natal de cada e de todos os dias, ao modo do pessoano “Guardador de Rebanhos”, com o quanto baste de virginal inocência de um Menino Deus do sul latino, sem reverência ao Papai Noel do Natal do consumismo.


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