vida decente. A marítima metáfora serve na perfeição para caraterizar o que acontecia no mar alto da Educação.
Na primeira metade de 2025, quem ainda navegasse contra uma corrente de ignomínia, contornando escolhos e icebergs, deveria ficar atento às consequências dos “tsunamis” causados por uma sub-humana espécie de tubarões pedagógicos.
Cansado de assistir a naufrágios (leia-se: projetos) o vosso avô resolveu “mudar de vida”. Melhor dizendo, decidiu… viver. Gastara mais de meio século em vãs tentativas de humanização da Educação, fora uma espécie de Dom Quixote, “quebrando lanças contra um “moinho” chamado Sistema de Ensino. E o vosso avô Zé não iria criar mais uma “capelinha académica”. Não constituiria mais uma “seita pedagógica” com o respetivo dogma e guru, nem passaria qualquer legado ou herança.
Eu apenas tinha feito o que deveria ser feito. A partir dali, passaria à condição de ajudante de quem enfrentasse fundamentalismos, negacionismos e outros ismos engendrados pelo Sistema, no reconhecimento de que o “ismo” mais difícil de erradicar seria o teoricismo. E de que os maiores teoricistas eram os… áulicos.
Um Darcy cáustico descreveu os “áulicos” (neologismo por ele criado, creio eu) sustentáculos do teoricismo. Assim falou, nos idos de noventa:
“Muitos cientistas sociais são cavalos de santo de Foucault, cavalos de santo de Lévi-Strauss. Não olham para o Brasil.
O importante para eles é citar o Poulantzas, ou dizer o que Poulantzas pensaria. Ou ler o 18 Brumário do Marx. E, a partir deles, fazer discursos académicos, às vezes muito inteligentes, muito especiosos. Mas são incapazes de olhar a realidade brasileira, de tentar entender.
Há um tipo de ciência social que é tão infecunda quanto a erudição antiga, a erudição dos que sabiam latim, que falavam todas as línguas do mundo, gente que não sabia nada. Só citava. Só se lembrava do texto de um outro.
Essa gente indignificava a inteligência, porque convertia a inteligência, que é um instrumento de compreensão e transformação do mundo, num ato de fruição. Era uma coisa masturbatória, muito ruim.
Ciência social em grande parte, é isso. Lamentavelmente.”
Em 2025 - mais de três décadas decorridas sobre o desabafo do saudoso Darcy, os áulicos continuavam a infetar o campo da teoria. Agiam como elementos cancerígenos de um sistema em adiantado estado de putrefação.
Uma das caraterísticas dos áulicos era a incoerência. Outras caraterísticas neles poderíamos encontrar, como a arrogância e a corrupção moral e intelectual.
Poderíamos encontrá-los, pavoneando-se nos palcos de congressos, em palestras de cuspe e power point. Incitavam os professores a mudar as suas práticas, a fazer uma “educação do século XXI”, enquanto, nas suas salas de aula, reproduziam um modelo educacional do século XIX.
Encontrávamo-los acantonados em redes sociais, em “nichos herméticos” fechados à produção de laços sociais, pois somente os “eleitos” do nicho poderiam falar entre si.
Narcísicos, fechavam-se a quem ousasse propor um debate e produziam a estagnação do diálogo. Face à crítica construtiva, se o seu ego fosse ferido, reagiam com ostracismo, sarcasmo, acusações falsas, insultos e até “assassinato de caráter”.
Nos idos de vinte e cinco, estava nascendo no Sul uma Nova Educação, aquela que muitos visionários tinham anunciado, desde há mais de um século. Mas, eram muitos os obstáculos enfrentados por “navegadores solitários”, muitos os “projetos à deriva”…
