De volta ao tema “avaliação”, escutemos o Mestre Lauro, que assim se manifestava acerca da pseudo-avaliação, que nesse tempo (e ainda nos idos de vinte) se fazia:
“O atual processo de
verificação de rendimento, se por um lado é instrumento precário e anticientífico
de avaliação, por outro favorece a criação de perigosos hábitos e atitudes de
desonestidade, fraude, de confiança no “fator sorte” e de memorização,
desorganizando a vida intelectual do aluno e preparando-o para estender à vida
de cidadão e de profissional os processos corrompidos aprendidos nos bancos
escolares. Seria melhor que nada se verificasse a possibilitar a aprendizagem
de atitudes desonestas ou deformadoras, como atualmente acontece nas escolas.
As provas e exames dificilmente
permitem verificar o comportamento do indivíduo numa “situação de vida”. Não nos devemos basear em “conhecimentos
atuais” apurados numa emergência (por exemplo, nos vestibulares). Exame de
admissão é resquício de escola aristocrática. Para onde irão os eliminados pelo
sistema de seleção? Usar provas e exames como recurso de coação para promover o
estudo, não só demonstra a incapacidade do professor, como cria tensões
psicológicas altamente prejudiciais à formação de uma personalidade tranquila e
ajustada.
Não deve haver horas
especiais de verificação. Todo o momento é ocasião de apreciar o rendimento
escolar. O sistema de verificação que consiste em comparar os alunos entre si
não só é profundamente injusto, como provoca hostilidades, quebrando a
desejável solidariedade que deve ser cultivada na juventude.
A medida de cada aluno
só pode ser ele mesmo. O professor não deve fazer “classificação de alunos”, não
deve fazer da verificação uma espécie de “vômito intelectual”, nem fazer
julgamentos milimétricos (em décimos e centésimos). Se o aluno não aprendeu, o
professor não ensinou”.
E o Mestre ia ao fundo da questão:
“As escolas não são
escolas seletivas. São escolas para todos. Como são obsoletos e anticientíficos
os processos didáticos ainda utilizados nas escolas, quase todos baseados em
técnicas expositivas e em processos não-ativos. A estrutura escolar baseada
(como vem sendo) em pura “informação” está fadada ao mais completo fracasso. O
professor jamais concorrerá, vitoriosamente, com os modernos meios de
informação, mesmo que as escolas se equipassem com todos os recursos técnicos
de transmissão de informações”.
Mais
de meio século decorrido sobre a publicação desse texto, as escolas continuavam
a ”usar provas e exames como recurso de coação
para promover o estudo”. Os professores
não sabiam avaliar, mas faziam “classificação
de alunos”.
Os ministros e secretários, certamente, não tinham
lido as obras do Lauro. Acaso as tivessem lido, não tinham entendido a mensagem
– não nos esqueçamos de que, nessa época, havia analfabetismo funcional na
universidade.
Vai
para trinta anos, na esteira das considerações tecidas pelo Mestre Lauro, o meu
amigo Celso dizia que a avaliação era uma estratégia fundamental para a
existência, considerando que não nascemos prontos, nem programados e que nos
constituímos por nossa atividade. Escutemo-lo:
“A avaliação nos ajuda na tomada de consciência dos
acertos, o que é decisivo para o fortalecimento da autoestima, propiciando
condições para novas aprendizagens.
A tomada de consciência dos erros, por sua vez, é
importante para que possamos nos comprometer com sua superação, aprender com
eles (...) A avaliação é, sem dúvida, uma conquista da espécie humana”.
