A leitura do artigo do amigo Paulo, que, ontem, vos dei a conhecer, me conduziu à formulação de perguntas:
Porque seria que a solidão era a sina de quem intentava fazer Escola Pública?
Em dois mil e vinte e cinco, estava sendo gestada uma nova educação, aquela que os filhos dos filhos dos nossos filhos mereciam. A compaixão e a esperança nunca esmoreceram. A freiriana esperança não morrera. Apesar dos desmandos da desgovernação, ainda havia quem “praticasse Darcy”.
As secretarias de educação brasileiras (à semelhança dos agrupamentos de escolas portugueses) diziam ter como missão proporcionar uma educação pública, gratuita e democrática, voltada à formação integral do ser humano, para que pudesse atuar como agente de construção científica, cultural e política da sociedade, assegurando a universalização do acesso à escola e da permanência com êxito no decorrer do percurso escolar de todos os estudantes.
No domínio das intenções, era essa a missão. Na prática, poucas secretarias, escassos agrupamentos as cumpriam. A “qualidade da escola pública” não melhorara.
O amigo Pedro analisara resultados traduzidos num mísero “índice de desenvolvimento da educação básica”. Desse estudo se poderia concluir que a manutenção de um sistema de ensinagem com centro na solidão da sala de aula era indício seguro de crime de abandono intelectual.
Muitos educadores se surpreendiam, quando eu lhes dizia que o sistema de ensinagem, para além de obsoleto, era criminoso. E pareciam possuídos por uma estranha cegueira, que os impedia de ver que, insistindo em “dar aula” em sala de aula, negavam à maioria dos seus alunos o direito à educação.
A lista de imoralidades cometidas pelo sistema de ensinagem era bem longa. E me entristecia ver educadores éticos em “rotas de fuga”, fabricando “paraísos pedagógicos artificiais” sustentados pela boa-vontade de filantropos, por “bolsas de alunos pobres” da caridadezinha assistencialista, ou por quem podia pagar uma “mensalidade”.
Onde estaria a solidariedade inscrita nos projetos das escolas? Cadê a “Escola Pública”?
Projetos ditos “alternativos”, que se submetiam às ímpias regras de um sistema hierárquico, autoritário, imoral e corrupto, jamais lograriam sobreviver sem negar os seus princípios. O sistema os tolerava, por não constituírem perigo…
Urgia passar de um obsoleto (e criminoso) sistema de ensinagem para um sistema de aprendizagem, conceber uma nova construção social. Já nas décadas de trinta e de quarenta (do século passado, claro!), Anísio nos falava dessa nova construção social, partindo do trabalho em sala de aula, incrementando a “pesquisa nas bibliotecas e casas de cultura, e na Natureza”.
Para que houvesse, verdadeiramente, “Escola Pública”, dever-se-ia banir segmentações cartesianas. Urgia reorganizar o tempo e o espaço escolar, garantindo integralidade, o ritmo de aprendizagem de cada ser humano e da sua comunidade, o respeito por princípios, escutando, mais uma vez, o Anísio Teixeira da Escola de Cidadãos:
”Fazer escolas nas proximidades das áreas residenciais, para que as crianças não precisem andar muito para alcançá-las. Porque o território não se limita ao espaço geográfico, mas à abrangência dos efeitos sociais e políticos em que o indivíduo esteja inserido.
O estudante não é só da professora ou da escola, e sim da rede, da Cidade”.
O reconhecimento de que a cidade poderia constituir-se espaço educador, possibilitaria o encontro dos sujeitos históricos, criando espaços, tempos e novas oportunidades educacionais.
