Continuo contando um pouco de uma história oculta.
4 de setembro de 2003 – A escola e a Associação de Pais denunciam, em comunicado, que “em vez de premiar a qualidade, o Ministério da Educação asfixia-a”. Terminam manifestando a sua incredulidade:
“Não acreditamos que o senhor Ministro da Educação queira ficar na história como aquele que, ao fim de 27 anos, extinguiu este projeto”.
8 de setembro de 2003 – Em comunicado, os pais da Escola da Ponte constatam: “A arrogância e a falta de sensibilidade que continuam a ser evidenciadas pelo Senhor Ministro da Educação e os seus mais próximos colaboradores”, o que os leva a pensar que “o que o Ministério pretende é mesmo acabar com este projeto”. Informam:
“A partir do dia 15, ocuparemos pacificamente as instalações da Escola e não sairemos daqui até que o governo resolva os problemas que criou”.
Desde o início do projeto, os pais dos alunos foram o mais sólido apoio e amparo do projeto. Quando os pais inferiram que os seus filhos eram bem cuidados e mais e melhores aprendizagens faziam, defendiam os seus professores como a leoa defende os seus filhos. E os professores devolviam-lhes o saber cuidar com lealdade ao projeto.
No dia 9 de setembro de 2003, os educadores e professores da escola em regime de destacamento tomam uma posição pública de denúncia dos prejuízos da política “irresponsável e inconsequente do Ministério”. Reafirmam a vontade de reintegrar a equipa docente da escola “logo que o Ministério se comprometa a assegurar as condições que possibilitem o normal prosseguimento e desenvolvimento do Projeto Fazer a Ponte, de acordo com as exigências oportunamente formuladas pelos pais dos alunos, com as quais serão sempre solidários”.
No dia 15 de setembro de 2003, dia da abertura oficial do ano letivo, a Escola da Ponte, como noticiou o Jornal de Notícias, “abre apenas aos protestos”. E, conforme tinham anunciado, os pais ocuparam a escola “por tempo indeterminado”.
16 de setembro de 2003 – Segundo o jornal O Público, cerca de trinta personalidades públicas, na sua maioria ligadas à educação, divulgam documento em que se solidarizam com a comunidade educativa da Escola da Ponte, nomeadamente, com os professores que “teimam em ser autónomos, criativos e donos da sua profissão”. E acusam o Ministério de “fazer o contrário do que diz”.
Por efeito das atitudes autoritárias (e cobardes), do ministério, no início daquele ano letivo, a escola somente dispunha de cinco professores. Conscientes da impossibilidade de tão poucos professores manterem o projeto no nível de qualidade que havia alcançado, os alunos mais velhos (os do 7º ano, impedidos de se matricularem na Escola da Ponte) se ofereceram como “monitores”, para “orientar e apoiar os mais pequenos”. É evidente que a atitude altruísta dos alunos mais velhos não surgiu do acaso – os professores não ensinam o que dizem, transmitem aquilo que são.
No dia 17 de setembro de 2003, o jornal O Público noticiava que, por decisão dos pais, acatada pela Direção da escola e pelos cinco docentes do quadro, a escola ia reabrir.
A resiliência de pais, professores e alunos da Ponte contagiaram uma opinião pública sensível a situações de injustiça e, sobretudo os mais respeitados insignes educadores do campo das ciências da educação. No 25 de setembro de 2003, realizou-se, na cidade do Porto uma sessão pública de apoio à Escola da Ponte. Universidades, sindicatos, gente amiga se juntou para mostrar ao ministério que a Escola da Ponte não estava sozinha. Foi deveras emocionante aquele exercício de solidariedade ativa.
