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Aves, 29 de junho de 2045

 

Completando a cronologia dos fatos... Muito se falou sobre a Ponte e, em particular, sobre os críticos eventos do início do século. Nem sempre se disse aquilo que, realmente, aconteceu. Por isso, creio ser oportuno dar-vos a conhecer documentos “oficiais”. 

Poderá constituir uma maçada a sua leitura, mas se revela indispensável, para tentar concluirei este quase “estudo de caso”. Fica devidamente documentado, porque legitimou uma solidária intervenção, quando decorria o primeiro quartel de 2025.

Entre os meses de março e setembro de 2003, muita correspondência foi trocada entre a Ponte e os órgãos de tutela. Vos dou a ler um resumo, o que me parece mais significativo.

“Ex.mos Senhores

Ministro da Educação

As árvores que se destacam da floresta estão, naturalmente, mais expostas à observação dos admiradores, à fúria dos elementos e à cobiça dos predadores. A Escola da Ponte nº1, no contexto do sistema português de ensino, é uma dessas árvores. 

Ao longo de um quarto de século, a Escola da Ponte converteu-se e foi convertida num símbolo. Um símbolo de inovação, de autonomia não outorgada, de qualidade educacional. Sobreviveu coerentemente a todas as mudanças de orientação política e a todas as tentativas de asfixia ou normalização e atingiu, por mérito próprio, um estatuto verdadeiramente ímpar no panorama das escolas portuguesas, no qual se combinam o interesse e o reconhecimento dos investigadores (aquém e além fronteiras), a atenção e a cumplicidade críticas da administração, a solidariedade dos educadores e professores mais predispostos à inovação e, nos últimos anos, a curiosidade crescente dos media. De resto, não foi, seguramente, por acaso que, em janeiro de 1998, na Semana da Educação, o Presidente da República quis distinguir a Escola da Ponte com a sua visita e o seu apreço.

Mas, a partir do momento em que foi convertida numa Escola Básica Integrada, a Escola da Ponte viu projetar-se ainda mais sobre si a sombra da ignorância, do despeito e da infâmia que, em Portugal, tantas vezes, se abate sobre quem tenta fazer diferente e fazer melhor. 

Esgrimindo falsidades que pretendiam amesquinhar mais de 25 anos de trabalho honesto e perseverante em benefício das crianças e mobilizando invejas bairristas e profissionais há muito recalcadas, um abaixo-assinado ostensivamente manipulado por um partido político tentou reduzir a pó o crédito e o prestígio da instituição, lançando sobre ela um vento de suspeições e insinuações caluniosas que, lamentavelmente, encontraram eco em muitas famílias de S. Tomé de Negrelos e numa parte da administração. 

Em vez de, solidariamente, vir a terreiro desagravar uma Escola que, nas Provas de Aferição, sempre alcançara resultados largamente superiores às médias regional e nacional e cujo projeto educativo há muitos anos constituía uma referência de inovação e  qualidade para o próprio Ministério da Educação (como tantas e tantas distinções o comprovam), a tutela optou estranhamente por um silêncio cúmplice, que foi imediatamente interpretado pelos caluniadores como uma clara e indesmentível manifestação de desconfiança relativamente à Escola. 

Uma investigação entretanto realizada comprovou, objetivamente, que os alunos saídos da Escola da Ponte para a EB 2,3 de Vila das Aves tiveram, na sua esmagadora maioria, um percurso académico exemplar, contrariando as atoardas postas a correr pelos caluniadores.”

Em 2025, decidi voltar à Ponte, para ajudar os seus educadores a retomar caminhos de mudança interrompidos em 2012. 

(continua)

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