Por mais inverosímil que possa parecer, tudo aconteceu do modo como relatei os fatos. Apercebendo-me de esconsas manobras políticas, enviei farta correspondência para órgãos do ministério, dado que, ainda antes de me aposentar, me apercebi de que muitas cartas, circulares e ofícios tinham “desaparecido”.
Daí que, vinte anos depois, desse a ler aos companheiros e companheiras de projeto cópias fidedignas de documentos que, durante esse tempo, guardei. Embora possas parecer maçadora, a sua leitura é obrigatória para quem quiser conhecer o “lado oculto” do projeto “Fazer a Ponte”. Aqui vai.
“Na posse das conclusões da Avaliação Externa, que eram extremamente favoráveis à Escola, a administração optou, porém, uma vez mais, pelo silêncio, sonegando essa informação à opinião pública.
A campanha violentíssima desencadeada contra a Escola, campanha que não olhou a meios para atingir os seus fins, e o silêncio cúmplice da administração, objetivamente recetivo à calúnia, instalaram, numa parte da comunidade envolvente, fortes dúvidas sobre o mérito e a adequação pedagógica do Projeto Fazer a Ponte, que levaram muitos pais de S. Tomé de Negrelos a subscrever o abaixo-assinado e a encaminhar os seus filhos, que haviam concluído o primeiro ciclo, para outras escolas.
A situação levou o ME cancelar a construção do edifício da nova escola, que deveria estar concluído e pronto a ser utilizado em setembro de 2003 – a calúnia, uma vez mais, tinham compensado!
A proposta inicial da Associação de Pais da Escola da Ponte era, porém, muito mais pragmática que a solução que acabou por ser legalmente instituída: defendia, numa primeira fase, o alargamento do Projeto Fazer a Ponte ao segundo ciclo, abrangendo apenas os alunos que tivessem concluído o primeiro ciclo na Escola da Ponte, ou seja, crianças que já dominassem os principais dispositivos ou suportes de organização do trabalho escolar em que assenta o Projeto. O ME, apostando numa com um espectro de recrutamento mais vasto, abrangendo as crianças de todas as escolas do Agrupamento, mesmo aquelas onde não chegara ainda a ser implantado o Projeto Fazer a Ponte.
O entendimento da Escola (que, ao longo de 25 anos, sempre rejeitara o aventureirismo inconsequente e os modismos faz-de-conta da inovação decretada) era o de que a extensão do Projeto Fazer a Ponte ao segundo ciclo deveria concretizar-se de uma forma gradualista e muita refletida, permanentemente acompanhada e avaliada por uma entidade exterior, cuja composição, de resto, o próprio Ministério da Educação chegou a definir.
Apesar de não ter desejado a solução institucional que acabou por ser adotada, a EBI de Aves/S. Tomé de Negrelos tem procurado honrar todos os compromissos que assumiu perante a administração e a comunidade e, em condições extremamente adversas, tem realizado um trabalho que continua a ser apreciado pelos encarregados de educação dos seus alunos e que continua a ser objeto das referências mais elogiosas por parte dos professores, educadores, pais e investigadores que constantemente a procuram e a visitam, muitos deles, estrangeiros.”
Enquanto o projeto era visitado por milhares de educadores de portugueses e estrangeiros no território em que o Fazer a Ponte nasceu, “professores” e políticos moralmente corruptos teciam um plano feito de intrigas, urdiam uma trama ornada de falsidades, criavam obstáculos a um projeto feito de sofrimento e resiliência. É necessário recordar perseguições e múltiplas tentativas de destruição que o projeto sofreu.
(continua)
