Na obra “TEXTOS E ENSAIOS FILOSÓFICOS”, Mestre Agostinho assim se expressa:
"Talvez um dia, caídas todas as grilhetas da economia, mesmo as da abundância, que poderão ser ainda mais difíceis que as da fome, possam os homens do mundo inteiro ascender à verdade total, a que não tem filosofia, nem ciência, nem obra de arte; a que, ao ser, tudo destrói; a que nenhuma roupagem contorna como vulto; a quem nenhum espelho reflete como face”.
Agostinho foi um anunciador de novos e auspiciosos tempos, tendo vivido tempos ignominiosos, durante os quais eu acolhia queixas de jovens almas censuradas:
“Sou diretor de uma escola estadual e estou vivendo dias sem sono e diversos momentos de desmotivação.
Quando fiz o concurso para diretor escolar, pensei que poderia mudar a estrutura, pensar em movimentações bem próximas ao modelo de educação democrática, que tanto aprendi com seus dicionários e o “Aprender em Comunidade”.
Hoje em dia, vivo dias de revolta e de cobrança por estar pensando que não acerto mais! Nos últimos dias, estou vivendo sob tanta pressão por atingir metas, apresentar resultados, que não sei mais o que fazer.
Vivo bombardeado por teorias neoliberais empresariais, que estão me fazendo adoecer, e digo: Logo eu, uma pessoa que ama tanto a educação e pensa em transformação 18 horas por dia. O meu combustível para estar ainda na educação é amar meus alunos. Muitas vezes, estou triste, mas vem um aluno e me diz:
“Obrigado, diretor, por me entender e me escutar, refleti sobre o que falou e vou tentar mudar!”
Eu gostaria de pedir desculpas por te mandar um e-mail com lamentações, mas de verdade, quando estamos sem caminho, sem perspetiva, somente aqueles em quem nos espelhamos podem nos ajudar!
Quando eu priorizo a aprendizagem em decorrência das questões administrativas, estou errado! Quando não entro em uma reunião porque um aluno solicita que o escute, estou errado! Será que tudo aquilo que li, que assisti, que defendo como educação democrática, pensando que todos sejam protagonistas no processo, foi uma interpretação errada?
Estou em frangalhos, pensando que não sou bom o suficiente. Mas preciso te confidenciar: o que ainda não me fez desistir é a possibilidade de tentar proporcionar momentos felizes e aprendizagem aos alunos.
Ademais, professor, obrigado por me ouvir, estou sem chão, sem rumo. Entre erros e acertos, não sei mais sinceramente qual caminho trilhar”.
Perante este depoimento e de muitos outros, recebidos ao longo dos idos de vinte e cinco e que evidenciavam a profunda “crise, que era um projeto”, eu buscava lenitivo para as lamentações nas palavras do Mestre Agostinho:
"Não creio que se possa definir o homem como um animal cuja característica ou cujo último fim seja o de viver feliz, embora considere que nele seja essencial o viver alegre.
O que é próprio do homem na sua forma mais alta é superar o conceito de felicidade, tornar-se como que indiferente a ser ou não ser feliz e ver até o que pode vir do obstáculo exatamente como melhor meio para que possa desferir voo.
Creio que a mais perfeita das combinações seria a do homem que, visto por todos, inclusive por si próprio, como infeliz, conseguisse fazer da sua infelicidade um motivo daquela alegria que se não quebra, daquela alegria serena que o leva a interessar-se por tudo quanto existe, a amar todos os homens apesar do que possa combater, e é mais difícil amar no combate que na paz, e sobretudo conservar perante o que vem de Deus a atitude de obediência, ou melhor, de disponibilidade, de quem finalmente entendeu as estruturas da vida."
