Nos idos de vinte e cinco, era exponencial o crescimento dos chamados “centros de explicações e de estudo”. Também aumentava o “bournout” e o suicídio juvenil. Era permitido o “ensino individual” e havia empresas estrangeiras a ensinar, à distância, alunos portugueses e brasileiros.
Famílias “dissidentes” possuidoras de elevado poder de compra protegiam os seus filhos, pagando aquilo que a Constituição dizia ser direito de todos e gratuito.
A escola (dita) pública, criada para garantir equidade, reproduzia um modelo escolar (e de sociedade) excludente. Entretanto, surgiriam saudáveis reações à insustentável situação.
A amiga Magda havia dito que o diretor Luís era pessoa sensível à necessidade de transformar a construção social prussiana numa nova construção social. Pude confirmar que se tratava de um educador de raiz e de um ditoso diretor, pois havia no quadro da escola professores a quem se podia chamar professor. Gente inquieta, curiosa e que, apesar dos pesares, se disponibilizava para se reelaborar culturalmente.
Naquela manhã de maio, feito o convite à mudança, foram muitas as perguntas dos professores:
“Como se poderá concretizar essa utopia?
Como se tornará permanente e sustentável?
Qual a formação necessária?
Será feita alguma sensibilização?”
Disse-lhes que não pretendia sensibilizar, ou convencer. Que acreditava terem tomado uma decisão ética e que, a partir daquele momento, eu era mais um elemento de uma equipe de projeto.
Cuidadoso, pois era experimentado nas andanças da direção, o Luís me ajudou a identificar zonas de autonomia relativa. Concebeu um plano de caraterísticas intermédias entre aquilo que a burocracia ministerial permitia e o que seria do domínio da utopia. E, enquanto o prudente Luís ia contornando burocráticas armadilhas, para criar círculos de aprendizagem na sua escola, eu tinha os meus estrábicos olhos pousados no Bairro do Loureiro.
A “Manuel da Maia” foi uma das escolas de referência, que impulsionaram o aparecimento de novos e inovadores projetos.
A saga pedagógica lusa acompanhou a evolução de projetos da outra margem do Atlântico, contrapondo ao “home schooling” anglo saxônico um “community schooling” latino.
A educação passou a ser, efetivamente, da responsabilidade da tríade escola-família-sociedade. A Escola, o Poder Público e a Universidade convergiram num projeto de humanização. Os projetos das escolas se articularam com áreas como a Saúde Púbica e Ambiente e a Arte e Cultura – era prova provada de que ainda havia professores dispostos a tomar uma decisão ética, projetando a sua “versão sua no futuro”, sem desistir, quando encontravam “coisa difícil”.
Esse projeto iria passar por provações várias. À semelhança de outras iniciativas potencialmente inovadoras, também nessa escola se fariam sentir as caraterísticas de um pérfido sistema e dos seus serventuários instalados em órgãos de direção, gestão e administração.
No setembro de vinte e cinco, a corrida aos supermercados recomeçara. As famílias faziam contas de subtrair, para ver se um salário seria suficiente para a compra de mochilas, “material” e inúteis livros didáticos
“The show must do on!” – o supermercado “pedagógico” florescia, palestrantes, assessores, consultores e quejandos aumentavam a sua conta bancária, empresas abútricas acumulavam lucros, sindicatos erguiam protestos e os ministros vinham a público dizer que o início do ano letivo fora um êxito.
Netos queridos, custa acreditar, mas era isto o que acontecia nos idos de vinte e cinco.
