Escutemos uma voz atenta e autorizada, tecendo algumas considerações sobre a BNCC:
“Enquanto não falta aula, aprendizagem é apenas eventual. A BNCC, que, em termos concretos, é apenas um repositório de conteúdos curriculares organizados conforme alguma lógica acadêmica e didática, não pode recriar a escola, por mais que isto solicite. Também não muda os professores, condição maior para termos “outra escola”.
Os conteúdos, devidamente codificados alfanumericamente (para que nenhum escape ao controle instrucionista), serão, provavelmente, transmitidos como sempre foram, porque é isto que o sistema, ao final, exige, não aprendizagem, e mormente porque os professores foram “deformados” para este tipo de atividade instrucionista na faculdade.
“Recriar a escola” é empreendimento frontalmente imenso e complexo, embora fosse o que mais parece decorrer dos diagnósticos disponíveis, mesmo com base em dados do Ideb ou PISA, por serem tais avaliações também propensamente instrucionistas”.
O gesto da BNCC de pedir a “recriação da escola”, embora extremamente pertinente, se encaixa no rol retórico da má consciência. Toda mudança proposta é armada dentro do sistema, para aprimorá-lo ou adaptá-lo, nunca para o superar. O sistema instrucionista atual de ensino não faz sentido, porque é completamente inepto em termos de produzir aprendizagem. Não se trata de viver consertando uma canoa furada; precisamos de outra canoa, ou melhor, do mais moderno e atualizado transatlântico possível.
“A BNCC é apenas um repositório de conteúdos curriculares organizados conforme alguma lógica acadêmica e didática, não pode recriar a escola, por mais que isto solicite. Também não muda os professores, condição maior para termos “outra escola”. Os conteúdos codificados alfanumericamente (para que nenhum escape ao controle instrucionista), serão, provavelmente, transmitidos como sempre foram, porque é isto que o sistema, ao final, exige, não aprendizagem. E porque os professores foram “deformados” para este tipo de atividade instrucionista, na faculdade.”
Pedro Demo nos dizia que na BNCC os objetivos já estavam descritos de forma propícia à sua “catalogação”. Eles seriam convertidos em “descritores”, para elaboração de itens de prova, que seriam pré-testados. Os itens, que “passassem nos testes de campo”, iriam para um “banco de itens”. Na época de aplicação de provas – não confundir prova com prática de uma avaliação efetivamente formativa, contínua e sistemática! – entre os milhares de itens disponíveis, seriam escolhidos alguns, segundo (misteriosos) critérios, para “cair na prova”.
Tal como acontecia nos inúteis rituais de “avaliação”, alguns itens de provas anteriores seriam utilizados nas provas dos anos seguintes, para aferição.
Os professores preocupar-se-iam em estudar exames anteriores, tentando adivinhar padrões, limitando os processos de aprendizagem a conteúdos treinados em absurdas “simulações”.
O Brasil dispunha de sistemas que ajudavam os professores a construir simulados e a aplicar nas turmas (outro dispositivo sem sentido, desde há mais de um século), a partir de sistemas online. Sendo a proposta de BNCC aprovada, esses processos seriam assimilados por sistemas auto-instrutivos online. Usando tecnologia interativa, o processo de avaliação passava a monitorar o ritmo e desenvolvimento do aluno, indicando materiais instrucionais (vídeos, filmes, materiais etc.) que o aluno poderia usar para “corrigir” a sua “dificuldade de desempenho”.
