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Carvalhos, 29 de agosto de 2045

“Como é coordenada e avaliada a Educação Física? De que forma as crianças decidem o que querem fazer, uma vez que determinadas atividades são necessárias para o desenvolvimento de habilidades relacionadas a lateralidade, a questões de ordem motora etc.?

Espero que tenha sido clara a minha questão, pois desconheço termos técnicos da área para ser mais objetiva.

Neste ano, tentamos fugir um pouco das modalidades mais tradicionais, tais como: futebol, voleibol, handebol etc. Temos grupos a trabalharem o Parkour, a Dança (Salsa). Os alunos pela “primeira vez” trabalha de uma forma mais dirigida, com atividades que lhes propiciem um desenvolvimento motor mais global, e são reforçados em aspetos que os ajudem na sua aprendizagem mais cognitiva, como, por exemplo, a lateralidade.

Temos que seguir o currículo nacional, mas temos liberdade de lidar com as propostas de forma diferenciada, portanto, o que não se abordar num ano, no outro provavelmente se abordará, dando-nos maior liberdade e sendo mais aliciante para as crianças.

As crianças vão sendo orientadas para conseguirem fazer propostas práticas de trabalho para o dia-a-dia, sendo elas próprias a dinamizar tais propostas. Para tudo isto, foi elaborado com as crianças um conjunto de dispositivos pedagógicos, no sentido de organizar, facilitar e apoiar o seu trabalho e a avaliação das aprendizagens

 Logicamente, tudo isto não é fácil de pôr em prática, é necessária muita calma, muito estudo, para fundamentar a prática, muita discussão e alguma sistematização na utilização dos dispositivos. É um trabalho muito árduo. “Progressão... continuada? Estava pensando que assim como em nossas escolas devem ocorrer situações em que a criança, ao término do nono ano, não tenha atingido os objetivos necessários para dar prosseguimento ao estudo. Caso isso ocorra, qual é o procedimento da Escola da Ponte? Há repetência? É claro que os motivos para não se atingir os objetivos propostos poderão ser diversos, como fatores de ordem neurológica, cognitiva, psicológica, social, enfim situações vivenciadas em todas as U. Es. cabendo a equipe docente e diretiva tomar as decisões mais pertinentes”.

A sua pergunta é muito interessante, porque ela nos permite pensar o percurso do educando à luz de outra lógica de organização da escola: por núcleos, como faz a Ponte.

A Escola da Ponte é uma escola em que um aluno completa estudos no mínimo de nove anos de escolaridade. Há três núcleos, mas eles não correspondem exatamente a três ciclos. As crianças transitam de um núcleo para outro, assim que atingem o perfil esperado e um mínimo de objetivos do currículo.

Há casos de crianças com cinco anos de escola que estão no Núcleo de Iniciação, e casos de crianças com três anos de frequência da escola e que já estão no Núcleo de Consolidação.

De acordo com a lógica da Escola Tradicional, poderemos concluir que, no primeiro caso, houve “reprovação”. E que, no segundo, houve “aceleração”. Mas na Ponte a conceção é outra. Há casos de adolescentes com quinze anos ainda na Consolidação e com onze ou doze já no Aprofundamento, assim como adolescentes com quinze estão no Aprofundamento.

A ideia de reprovação não tem espaço no nosso Projeto.

Na Ponte, é bem diferente o conceito de “avaliação”. Não existe repetência. A avaliação não tem o objetivo de aprovar ou reprovar. Não existem séries para a criança "passar de ano". Ela avança conforme sua autonomia e seu ritmo. Num mesmo espaço, convivem crianças que estão estudando objetivos diferentes, que não percorrem o mesmo caminho.

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