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Gervide, 24 de agosto de 2045

 

Permanecendo no diálogo sobre a avaliação que se fazia na Ponte…

“Vocês poderiam nos contar algumas protagonizadas pelos atores da Escola da Ponte?”

Sempre que os alunos (e em alguns casos também os professores) pensam que algo que está a acontecer no Mundo, no País, ou na Vila, é realmente importante, existe total liberdade para isso ser trabalhado no dia-a-dia e, em alguns casos, até por toda a escola.

Na área do ambiente, os nossos alunos estão envolvidos no Eco Escolas e nos Jovens Repórteres para o Ambiente e, dessa forma, socializam o seu trabalho (nomeadamente na festa de S. João).

Neste ano, iremos abraçar o projeto ENEAS e no âmbito do mesmo será realizada a monitorização do Rio Vizela e os resultados serão divulgados em toda a comunidade.

A Ponte tenta mostrar à comunidade todo o seu trabalho (especialmente no final do ano). Contudo, penso que ainda é uma área em que poderemos melhorar muito. Ainda estamos a tratar algumas feridas recentes de lutas travadas com o Ministério e isso levou a que nos virássemos mais para dentro (por necessidade).

Creio que neste momento estamos a começar a “abrir-nos”, novamente. Só espero que nada nos faça fechar novamente...

“Em substituição do Decreto Lei 319/91 surgiu o Decc Lei 3/2008, que estabelece orientações a considerar na escola para todos os alunos portadores de deficiência. Estas orientações consideram condições especiais de avaliação ao nível do tipo de provas escritas / testes diferenciados, do tempo de duração das provas, do tipo de avaliação (se é escrita ou oral), na correção (se se tratar de aluno disléxico ou com surdez severa ou profunda).

Estas condições são novidade na Ponte ou, pela filosofia da escola, terão sempre sido consideradas?

Como encaram os pais das crianças sem dificuldades a avaliação do aluno que não consegue aceder ao currículo. E que, necessitando de um currículo individual (completamente fora do currículo normal), tem uma boa nota na sua avaliação?”

Tendo em conta a filosofia e os princípios que norteiam a Escola da Ponte, não foi a promulgação do Dec. Lei 03/2008 que promoveu a avaliação de cada aluno como ser individual e irrepetível. Cada aluno é avaliado segundo as suas características individuais, numa lógica formativa e de constante desenvolvimento social, cognitivo e atitudinal.

Os encarregados de educação, ao inscreverem os seus educandos na Escola da Ponte, sabem que estes verão respeitadas as suas características, independentemente das suas particularidades. Neste sentido, todo o encarregado de educação sabe que o seu educando será avaliado de forma particular e específica.

A questão das "notas" não se coloca, uma vez que elas são partilhadas, em particular com cada encarregado de educação, de forma a não promover a comparação de realidades que não são comparáveis, tendo em conta a individualidade de cada aluno.

“O processo de avaliação é um tanto quanto complicado, quando se tem um projeto tão dinâmico como o da Ponte. Porque imagino que um aluno pode ir bem a uma determinada área e em outra nem tanto. Como fica a avaliação nestes casos?

É essencial olharmos os alunos na sua individualidade, mas considerando-os como fazendo parte de um todo, diferentes entre si. Cada um com sua especificidade e dificuldade de comportamentos e aprendizagens e, como diz o nosso Projeto (Fazer a Ponte), cada um tem de ser visto desta mesma forma – sempre trabalhada com as crianças a compreensão de como pedir a avaliação (para alguns, às vezes, demora a compreender).

A resposta a esta pergunta continua na próxima cartinha.

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