(continuação da cartinha anterior)
Para
que aprendam a gerir as suas aprendizagens, orientamo-los no sentido do que é
importante/interessante aprender/descobrir e, portanto, devem planejar tudo o
que é suposto quererem saber.
O
que acontece muitas as vezes é que interessam-se mais por umas disciplinas que
outras, deixando de lado algumas tarefas. Isso poderá ter a ver com a
dificuldade de determinada tarefa. Esta criança deverá, em determinado tempo,
começar a compreender que deverá utilizar o dispositivo "Preciso de
Ajuda".
“Na
opinião de vocês, professores da Ponte, esse seria um dos motivos relativos à
evasão escolar? O seu mau emprego da avaliação pode expulsar o aluno da escola,
causar danos em seu autoconceito, impedir que ele tenha acesso a um
conhecimento sistematizado e, portanto, restringir a partir daí suas
oportunidades de participação social?”
É
verdade que o abandono acontece em outras escolas. A Escola de Massas, enquanto
projeto emancipatório da modernidade, não está sendo alcançado e tão pouco vejo
possibilidade de ser uma realidade, num futuro próximo!
Será
a instituição Escola capaz de esbater as desigualdades sociais e constituir-se
num veículo de mobilidade social para aqueles que à partida pouco ou nada têm?
Eu acredito que sim. Mas o estado da arte na educação é contraditório e
preocupante. A mesma entidade que se assume como emancipadora em vez de
eliminar as diferenças sociais existentes no seu seio amplia-as adotando
técnicas de ensino e de avaliação normativistas (cf. Pierre Bourdieu - Teoria
da Reprodução). É precisamente esta função seletiva da escola que devemos
tentar minimizar. Ao optarmos pela resistência e pela crítica (cf., por
exemplo, Henry Giroux Teoria Crítica e Resistência em Educação) às práticas
reprodutoras estaremos a contribuir para a formação de cidadãos autónomos,
responsáveis, críticos, solidários. Se optarmos pela normatividade, corremos o
risco de conduzir os alunos a rótulos e a estigmas que, certamente, determinam
o seu percurso educativo.
“Gostaria
de saber como é feita a avaliação durante a alfabetização. Existe alguma
referência a Emília Ferreiro ou ao construtivismo, que seja base para o
trabalho? Pergunto, porque entendi que sim, já que a escola se dá em nível
construtivista. Ou estou enganada? Como é esse processo de aprender a ler e a escrever
na Ponte? Ficaria feliz se pudessem ser minuciosos na resposta. Sei que não
terei receita como dito anteriormente, mas quero e preciso entender como a
alfabetização e a avaliação nessa fase acontece por aí. Como fazer para
sistematizar o ensino? Ou não é assim que ocorre? Como avaliar cada aluno em
salas tão heterogêneas?”
Antes
de falarmos em Emília Ferreiro e Construtivismo, falamos de um dos recursos
pedagógicos utilizados na escola como auxílio na alfabetização, que é a escrita
livre. Neste recurso a criança expõe livremente a sua tentativa de escrita. O
professor "avalia" o desenvolvimento do aluno, baseando-se nas fases
de Emília Ferreiro (pré-silábico, silábico e alfabético) Mas não só… É preciso
lembrar que a Ponte começou o seu projeto antes de a Emília começar as suas
pesquisas). Lembrando que há fase intermediária de um nível ao outro.
Esta
escrita livre apoia o professor – a alfabetização é trabalhada individualmente,
cada criança tem o seu próprio nível de conhecimento com relação à linguagem.
Quando se fala de um ensino individualizado, queremos dizer que o processo do
aluno é único, como está escrito no Projeto Fazer a Ponte.
(continua)
