A
cartinha de ontem terminava com um comentário:
“Lembro-me
de uma professora que, sempre prevenida, carregava consigo testes que ameaçava
aplicar, se as coisas não corressem como havia planeado.”
A
professora responde ao comentário:
O
carácter recorrente da aplicação desta "arma infalível" leva-me hoje
a acreditar que jamais esta professora se apercebeu de que os
"indisciplinados" eram alunos cuja autoimagem se tinha destruído
gradualmente.
Neste
dia de há vinte anos, o vosso avô encontrava-se hospitalizado – cuidava de si,
para poder cuidar de outros. Por esse tempo, empresas abútricas vendiam aulas
de “sócio emocional” para alunos, esquecendo que seria prioritário cuidar do
sócio emocional dos professores. E os adultos “docentes” projetavam nas
crianças e jovens discentes frustrações, traumas mal resolvidos. Por isso, a Luísa
nos dizia que o oposto do amor era a indiferença:
“O
que é importante é ter relações emocionais que sejam significativas, e há
vários estudos, como o Harvard Longitudinal Study, que mostra que o que as
pessoas consideram mais gratificante em termos de longevidade saudável e de
felicidade é o tipo de relações sociais que tiveram, sejam românticas, com
amigos, família, mais do que o sucesso profissional ou o dinheiro.
Sabemos
também que o isolamento social é um fator de risco para a depressão e para a
demência. E, quando digo relações sociais, não me estou a referir a andar em
festa ou ter uma vida social muito ativa, mas, sim, em ter um núcleo social à
volta.”
A
Ponte criara esse “núcleo social”, quando, em 1976, com pais de alunos, um
professor fundou o seu “núcleo de projeto”. Trinta anos decorridos, era a
comunidade constituída em torno desse núcleo que dava resposta às interrogações
formuladas por visitantes, estudiosos e outros curiosos.
É
obvio que só faz sentido que as avaliações sejam feitas conforme as
possibilidades reais de cada um dos nossos alunos. Pedir o mesmo a todos poderá
significar pedir demais a alguns.
Essa
é também uma das consequências da forma como encaramos a avaliação. Nas escolas
ditas tradicionais, quando se passa uma prova aos alunos de uma turma, o
professor já sabe que o aluno não vai ter um bom resultado. No fundo, uma
grande parte da avaliação (no sentido de recolher dados sobre cada um dos
alunos) já está feita. O teste serve só para conseguir uma prova física do
"não conhecimento" ou do "conhecimento" do aluno.
Alguns
dos alunos que a Ponte recebe vieram de outras escolas. Alguns deles vieram
rotulados de “maus alunos" e sabiam que, cada vez que faziam um teste,
teriam má nota. Se assim é, para que é que se colocam os alunos nestas
circunstâncias? Para ele perceber, mais uma vez, que não sabe...?
Por
outro lado, a tentativa de elevação da autoestima (algo absolutamente
fundamental em qualquer aluno/individuo) é alcançada de várias formas,
nomeadamente na adequação do trabalho aos seus interesses e características. A
avaliação é simultaneamente consequência e causa da alteração do tipo de
trabalho.
Finalmente,
penso que é importante salientar que existem alguns casos (poucos) em que os
alunos se inscrevem no dispositivo "Eu já sei" e ainda… não
"sabem".
Normalmente,
eles reconhecem com facilidade isso mesmo e continuam o seu trabalho. Sobre
autoavaliação, nos sentimos instigados a comentar nossos conceitos, que se
conflituam com nossa realidade escolar. Para as mudanças ocorrerem no sistema
escolar, em nosso ambiente escolar, esbarram-se em obstáculos, que ultrapassam
os muros da escola e os sonhos dos educadores.