Não
sei se entendi muito bem a respeito da avaliação, mas acredito que a avaliação
deva ser contínua e cumulativa, ou seja, todos os dias o aluno poderá ser
avaliado e levará em conta aquilo que ele sabe e não o que não sabe. Será que é
isso?
A
Ponte não era diferente de outras escolas. Em 1976, estávamos saindo de uma
mudança de regime político. Os professores eram mal pagos e queixavam-se de que
não podiam dar mais tempo à escola, porque tinham de ganhar proventos em outro
lugar. Hoje, os professores são bem pagos e... fazem o mesmo tipo de trabalho.
No
ano anterior àquele em que cheguei à Ponte, eu trabalhava numa escola bem longe
de casa e o salário que eu ganhava mal dava para pagar o transporte, a
alimentação e alojamento. Na Ponte, encontrei professores desmotivados, que
trabalhavam de modo igual ao dos que foram seus professores (e igual ao que
ainda hoje se faz na grande maioria das escolas). O que mudou?
Um
dos grandes equívocos da "progressão continuada", que se confundiu
com “aprovação automática” é o de que ela pode ser concretizada mantendo-se
práticas de seriação e a manutenção de padrões de tempo uniformes.
A
segmentação em anos de escolaridade é incompatível com a ideia de avaliação
contínua, formativa e sistemática (centrada nos processos, participada...).
Tempos uniformes (em sala de aula) são incompatíveis com a individualização da
aprendizagem. E a avaliação deve andar "alinhada" com a aprendizagem,
porque o próprio ato de avaliar é um ato de aprendizagem...
O
processo de avaliação é diário, havendo dispositivos pedagógicos cuja
finalidade é, claramente, esse: planos de dia e de quinzena, “Eu já sei”, “Preciso
de ajuda” e outros. Contudo, em muitas outras situações de avaliação, são
realizados feedback informais, só conseguidos devido aos fortes laços, aos
vínculos que se estabelecem com as crianças.
É
deste conhecimento mútuo que resultam os momentos mais profícuos na avaliação.
Pequenos incentivos, um gesto que reforce a sua autoconfiança, uma expressão de
contentamento, um olhar de insatisfação… Por outro lado, o trabalho partilhado
com o grupo de pares e o apoio que recebem destes, fomenta nos alunos um
sentimento de companheirismo e de solidariedade invejáveis, dando-lhes uma
motivação acrescida.
É
importante valorizar o percurso feito, as iniciativas na resolução de um
problema (mesmo que não resolvido), as tentativas de se superar, participando
em Assembleia, ou adotando uma postura interventiva na vida da escola, entre
muitos outros exemplos. Essa valorização é condição primordial na aceitação,
por parte do aluno, face a qualquer outro reparo menos positivo e
reestruturação do trabalho integrando estas observações.
Todos
os alunos têm que rever algumas matérias/conteúdos/assuntos, seja o que for,
para que possam progredir. O professor tutor acompanha o aluno nesse processo.
Em conjunto com colegas que partilhem da
mesma dúvida, se discute e clarifica o problema. A nossa gestão baseia-se
essencialmente no equilíbrio, para o qual contribui muito o bom-senso, uma vez
que não podemos permitir que uma dúvida/temática se prolongue ad eternum. Mas
também não simplificamos as aprendizagens, não lhes retirarmos significado na
construção de currículo. Acredito que a avaliação é um processo – precisamos ver
o que o aluno era e o que passou a ser.
Os
ritmos são respeitados! O que não se atingiu num dia, pode ser aprendido no dia
seguinte, sem precisar "repetir o ano”. Cada criança parte daquilo que já
aprendeu para aquilo que precisa aprender. Simples, como vemos!
