Em 2025, continuamos a defrontar obstáculos à Mudança e à Inovação. Os áulicos se constituem no sétimo obstáculo. Darcy assim os descreveu (creio que terá sido o autor do neologismo):
“Muitos cientistas sociais são cavalos de santo de Foucault. Não olham para o Brasil. O importante para eles é citar o Poulantzas, ou dizer o que Poulantzas pensaria. E, a partir deles, fazer discursos académicos. Mas são incapazes de olhar a realidade brasileira, de tentar entender.
Há um tipo de ciência social que é tão infecunda quanto a erudição antiga, gente que não sabia nada. Só citava. Só se lembrava do texto de um outro. Essa gente indignificava a inteligência, porque convertia a inteligência, que é um instrumento de compreensão e transformação do mundo, num ato de fruição. Era uma coisa masturbatória, muito ruim.
Ciência social em grande parte, é isso. Lamentavelmente.”
Mais de três décadas decorridas sobre o desabafo do saudoso Darcy, os áulicos continuam a infetar o campo da teoria, agem como elementos cancerígenos de um sistema em adiantado estado de putrefação.
Uma das caraterísticas dos áulicos é a incoerência. Outras caraterísticas neles poderíamos encontrar, como a arrogância e a corrupção moral e intelectual.
Pavoneiam-se nos palcos de congressos, em palestras de cuspe e power point, incitando os professores a mudar as suas práticas, a fazer uma educação do século XXI, quando, nas salas de aula, reproduzem um modelo educacional do século XIX.
Acantonam-se em redes sociais – nichos herméticos fechados à produção de laços sociais, pois somente os “eleitos” podem falar entre si. Narcísicos, fecham-se a quem ouse propor um debate, produzindo a estagnação do diálogo. Face à crítica construtiva, se o seu ego for ferido, os teoricistas reagem com ostracismo, sarcasmo, insultos e até com tentativas de “assassinato de caráter”.
A ação de dissimulada do “áulico” é tão ou mais destrutiva do que as maldades cometidas por “alguéns”, porque muitos deles são bem-conceituados, “doutores em educação”, fazedores de opinião.
O “teoricismo” (doença infantil da Pedagogia e antípoda do “praticismo”) afeta parte significativa de uma universidade ancilosada. Os enfermos produzem inúteis teorizações de teorias inúteis produzidas sobre teorias de teóricos, que não fazem a mínima ideia das práticas sobre as quais teorizam.
Mas, jamais deixarei de acreditar que até mesmo os áulicos teoricistas se poderão transcender, transformando-se em seres humanos sublimes.
“Só o que está morto não muda!” – dissera a Clarice – e a manhã de hoje, na UnB me conferiu novo alento. Arrisquei convidar professores de Matemática a tomar a decisão ética, que antecede e acompanha a reelaboração da cultura pessoal e profissional. Hoje, se acendeu uma centelha de esperança, ao escutar o anúncio de um decreto ministerial. E, mais uma vez, me disponibilizei para dar a conhecer ao ministério lugares onde os objetivos do decreto já foram atingidos.
O segundo obstáculo à Mudança é numa sociedade doente, normoticamente “achando” que a escola “deve ser como sempre foi”. O terceiro, a formação viciada em práticas de sala de aula. Lideranças tóxicas que, da administração à direção das escolas, engendram normativos de cariz técnico-instrumental, se constituem no quinto obstáculo. As nefastas intervenções dos áulicos são o sexto obstáculo. O sétimo é aquele que eu considero mais doloroso de aceitar – o maior aliado de um professor é outro professor, e o maior inimigo do professor que ousa fazer algo diferente é... outro professor.
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