Chegavam-nos interrogações em catadupa. E a todas dávamos a resposta possível.
“Como é vista a Escola da Ponte pelo sistema educacional português, com a sua autonomia conquistada? As demais escolas reconhecem a Ponte como um projeto de sucesso, que atravessa continentes? Há outras escolas experienciando o projeto, nas Aves, no Porto ou em Lisboa?”
O pai de uma aluna deu esta resposta:
“São raríssimos os casos de gente como a da Ponte.
No sistema educacional português a Ponte foi a primeira escola a assinar um contrato de autonomia com o Ministério da Educação. Mas, em Portugal, a Ponte permanece ainda um pouco invisível. O que tem seu lado positivo. A visibilidade que ela ganhou, especialmente no Brasil, teve como um dos resultados certa perda da tranquilidade. São muitos visitantes diariamente por lá. Isto chama a atenção e atrai invejas e ciúmes de outras escolas que não atraem ninguém.
Já se agrediu muito a Ponte por inveja. Panfletos foram lançados na calçada em frente à escola, fazendo acusações infundadas, maledicências. Artigos anônimos, publicados em jornais locais, repetiram a mesma agressividade.
Este tipo de reação houve. E penso que ainda continua a haver, embora talvez em menor grau. A fama da Ponte lentamente se espalha e já há, em Portugal, quem deseje fazer mudanças em suas escolas, mudanças inspiradas neste trabalho.
Há 30 anos, a realidade da escola e da Vila das Aves não era muito diferente daquela que caracteriza as pequenas cidades e as periferias de grandes cidades brasileiras: muita pobreza, condições de trabalho adversas e a emigração. Onde hoje fica o prédio da escola havia um "lixão". O lixo foi aterrado e sobre a pequena elevação se edificou uma P3.
Atrevi-me a dar resposta a perguntas como estas:
“Qual o maior desafio atualmente para a continuidade da filosofia da escola, uma vez que vocês falam da fragilidade das instituições humanas? Existe algum projeto prospetivo a fim de garantir a continuidade da Escola da Ponte?” Gostaria de saber se uma crise é fruto de pressões externas ou de âmbito interno.
Eis a resposta possível:
“Ao longo dos anos a escola sofreu muitas pressões externas. Houve momentos de crise agudas onde o projeto esteve realmente para ser "abatido". Mas a força da comunidade impediu que tal acontecesse. Ainda recentemente esse apoio se fez sentir quando, mais uma vez, se pretendeu ameaçar a continuidade do projeto. Talvez possamos dizer que já nos habituamos a essas pressões.
Em relação à metodologia de trabalho é natural que os pais tenham sempre muitas reservas. Mas, na Ponte, encontram um espaço onde podem colocar as suas dúvidas, opiniões, críticas. Não criamos barreiras artificiais, abrimos os braços a essas pressões. São também elas que nos permitem melhorar, constantemente.
O trabalho, visto sempre de uma perspectiva coletiva, é sempre inacabado, imperfeito. Nós somos os nossos maiores críticos e chegamos a ser agrestes nas nossas críticas. O projeto é uma construção humana sempre sujeita a grandes tensões, conflitos. A abertura, a frontalidade, a solidariedade e amizade vão conseguindo manter a estabilidade possível.
Relativamente à continuidade do projeto, é difícil prever o futuro, dizer que está assegurada a continuidade. Mas a verdade é que temos um conjunto de orientadores educativos motivados e um apoio (quase) incondicional dos pais. Enquanto assim for, a continuidade do projeto está assegurada. Aliás, diga-se que somos um projeto com mais de trinta anos a que a tutela continua a chamar,,, "experiência pedagógica”.
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