Pular para o conteúdo principal

Fão, 29 de setembro de 2025


No setembro de 2003, por decisão dos pais, se anunciava que a escola iria reabrir, mesmo sem autorização do ministério, cabendo aos alunos mais velhos (impedidos de se matricularem na escola) “orientar e apoiar” os mais jovens.

No Porto, numa sessão pública de apoio à Escola da Ponte, que decorreu no auditório “completamente cheio” da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, os presentes juntaram a sua assinatura “aos mais de 2500 nomes que, numa semana, subscreveram um abaixo-assinado de contestação à atitude do governo de não autorizar que o projeto Fazer a Ponte se expandisse para o “terceiro ciclo”. 

Integrada no movimento Fazer a Ponte, foi promovida pela Escola Superior de Educação do Porto uma sessão “de informação, debate, solidariedade com a Escola da Ponte e defesa da escola pública”. 

Os 50 anos do projeto Fazer a Ponte foram tempo de provar que, através de “Outra Escola” é possível regenerar e humanizar um sistema de ensino genocida e, concomitantemente, melhorar econômica e socialmente condições de vida da maioria da população.”

Talvez não por acaso, no ano em que a Ponte comemora o seu quinquagésimo aniversário, o meu amigo Pedro Demo publica um livro com um sugestivo título: Outra Universidade”. Nessa obra, o Mestre diz-nos que a Universidade deverá deixar de tentar “transmitir conhecimento, porque na sociedade intensiva de conhecimento o que decide as oportunidades de vida e trabalho é a produção própria de conhecimento; não pode mais se resumir em dar aula”.

O amigo Pedro era voz dissonante no campo das ciências da educação – a maioria dos cientistas da educação sofisticavam o discurso, falavam de “inclusão, educação integral, inovação”, mas a sua prática se resumia em “dar aula” na solidão da sala de aula, onde é impossível haver inclusão, educação integral, ou inovação

Os visitantes da Ponte surpreendiam-se com o fato de serem os alunos a “mostrar e explicar” o funcionamento da sua escola. Mais se surpreendiam com as respostas que eles davam.

“Reparei em algumas respostas que vocês reclamam de cansaço. Gostaria que vocês dissessem tudo o que é ruim na escola.”

Esta interpelação foi respondida por alunos da Ponte: 

Quando dizemos “cansaço” é no sentido de remarmos para o lado mais positivo da escola, para que muitas pessoas façam com que o projeto vá mais para a frente. 

O cansaço que sentimos é o cansaço característico do estudo. Houve alturas em que esse cansaço era consequência das lutas que travávamos para que o projeto continuasse a existir. Várias vezes, pensamos em desistir, pois as forças começavam a faltar. Contudo, olhando para trás, vemos que voltaríamos a fazer tudo novamente. 

Quanto às diferenças que sentimos, quando "nos comparamos" a colegas de escolas diferentes, elas talvez existam ao nível de respeito cívico, responsabilidade, que nos alunos da Escola da Ponte se encontram muito desenvolvidas.” 

“Como lidam com a "pressão" da sociedade tradicional?”

De novo, alunos deram resposta: 

“Infelizmente, defrontamo-nos com “pressões” todos os dias e isso, de certa forma, tornou-nos imunes a tanto "ódio". Só há duas coisas a fazer: ignorar ou confrontar a pessoa e dar-lhe a conhecer a VERDADEIRA Escola da Ponte. 

É obvio que também sofremos do mal humano que é a pouca paciência. E atingimos, por vezes, o limite da mesma. Nesses casos, o melhor é respirar fundo e esperar pelo novo dia. Eu acredito que o problema é só e apenas falta de informação e que o diálogo é a melhor arma. 

Desculpai, se não conseguimos responder a todas as perguntas.”

Postagens mais visitadas deste blog

Barcelos, 13 de setembro de 2025

No mês de abril do ano 2000, Rubem visitou uma escola, que viria a referir nas suas palestras, até ao fim da sua vida. A Escola da Ponte havia sido a primeira a consolidar a transição entre o paradigma da instrução – o do ensino centrado no professor – para o paradigma da aprendizagem.  Na esteira da Escola Nova, o aluno era o centro do ato de aprender. E o meu amigo surpreendeu-se com o elevado grau de autonomia dos alunos, comoveu-se com os prodigiosos gestos de solidariedade e manifestações de ternura, que ali presenciou.  Pela via da emoção, me trouxe para o Brasil e para ele vai a minha gratidão, nestas poucas linhas: Querido amigo, falando de tempo – essa humana invenção de que te libertaste –, reparo que já decorreram vinte e cinco anos sobre um remoto dia de abril, em que, pela primeira vez, partilhaste o cotidiano da Escola da Ponte e me convidaste a conhecer educadores do teu país.  Desde então, a minha peregrinação pelo Brasil das escolas não cessa, como não ce...