Em meados dos anos oitenta, o projeto Fazer a Ponte se expandiu. Ao núcleo inicial, composto de pais e de um professor, se juntaram a Maria José e a Maria Luísa. Estava constituída a primeira equipe de projeto e ela precisava de espaços de trabalho... em equipe. E uma escola de “área aberta” foi construída.
Em 1963, no âmbito da OCDE, foi iniciado um "projeto de ajuda aos países mediterrânicos”. Com o objetivo de desenvolver a escolaridade obrigatória, propunha-se apoiar países como a Grécia, a Espanha e Portugal. Nesse âmbito, um dos problemas foi o de harmonizar a conceção das construções escolares com as conceções de escola e as orientações no campo da pedagogia. Nos anos oitenta, no terreno da antiga “escola primária” da Ponte, onde o projeto foi gestado, uma “escola de área aberta” foi construída, para... “Fazer a Ponte”.
Pelas suas características - existência do grande espaço polivalente – a escola P3 facilitava a integração no meio social, tornando possível a sua utilização pela comunidade. Era área aberta de cooperação, de comunicação, uma das finalidades da “escola P3” era concretizada.
Outros objetivos eram anunciados. Se havia intenção de criar um ambiente encorajador de melhor comunicação entre alunos e professores, mobilizava-se professores para o trabalho em equipa. Facilitava-se a adaptação da organização escolar às diferenças individuais e à contínua aquisição de conhecimentos, permitindo reagrupamentos funcionais de alunos. Estimulava-se a multiplicação dos contatos pessoais e, por conseguinte, uma melhor sociabilização.
Diversas transformações temporárias e, por vezes permanentes, eram possíveis. Propunha-se outro tipo de relação entre os grupos, que constituíam a equipa educativa (pais, professores, alunos, auxiliares), uma outra prática. O trabalho e vida em grupo, a exigência de escutar o outro, tornava-se tão importante quanto a mudança de relações entre professores e alunos. Da instrução se passava para objetivos amplos de educação.
A escola de área aberta era um convite ao trabalho em equipe e à participação cidadã. Nela se gestou um projeto de autonomia, que culminou na celebração de um contrato com o Estado português, decorria o ano de 2004.
Para levar os filhos até à escola P3 da Ponte, onde a Sarai e o Leonardo aprenderam tudo o que um jovem precisava aprender, mais a aprendizagem da convivencialidade, o amigo Domingos percorria mais de cem quilômetros por dia.
Em 2021, o Domingos a ela voltou, na minha companhia. A “escola de área aberta”, que fora “incubadora” de novas práticas, estava votada ao abandono, degradada. Era preciso reavivar a memória da equipe de projeto.
A Ponte parecia estar esquecida de que, em 2012, tinha sido contrariada a decisão soberana do Conselho de Pais, “a fonte principal de legitimação do Projeto e o órgão de apelo para a resolução dos problemas que não encontrem solução nos demais patamares de decisão da Escola” (texto do Projeto Educativo da Ponte).
A escola de área aberta ficou deserta. O bairro da Ponte (e a Vila das Aves) ficaram privadas da sua escola. Ilegalmente, ela fora levada para outro local.
No setembro de 2003, o jornal “O Público” referia que cerca de trinta personalidades públicas divulgaram um documento em que se solidarizaram com a comunidade educativa da Escola da Ponte, nomeadamente, com os professores que “teimavam em ser autónomos, criativos e donos da sua profissão”. E acusavam o Ministério de “fazer o contrário do que dizia”.
A história da Ponte foi feita de amorosidade, de coragem e resiliência.
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