Aproveito estes dias de setembro, tempo de preparação de mais um ano letivo em Portugal, para convosco refletir sobre obstáculos e possibilidades de Mudança.
Escutemos o mestre Morin, que nos fala da necessidade de uma metamorfose, de uma reforma moral, lograda através de profundas mudanças no modo de educar e numa economia ecológica e solidária. Adotemos o princípio kantiano, que nos diz que o objetivo principal da educação é o de desenvolver em cada indivíduo toda a perfeição de que ele seja capaz. E reconheçamos que “dar aula” em sala a prática da aula não permite alcançar esse desiderato.
“Cedo se sente o incômodo: Considero que as minhas primeiras aulas foram uma coisa muito próxima do desastre.
Eu me lembro que ouvi muita reclamação. Os alunos reagiram, querendo, enfim, uma mudança daquilo.
Mas, os outros que davam aula também não eram muito diferentes de mim.
Os seminários eram desprestigiados – como ainda são. O pessoal não gosta de seminário, gosta de ouvir a aula, mesmo que ela não seja muito agradável. E, aí, entravam esses vícios, não é?
Os alunos sentiam isso e absorviam isso como um modo de dar aula. O aluno sente que você está fazendo aquilo burocraticamente.”
A “Declaração universal para a responsabilidade humana” diz-nos que a humanidade, em toda sua diversidade, pertence ao mundo vivo e participa de sua evolução, que os seus destinos são inseparáveis. E propõe princípios gerais, que podem servir de base para um novo pacto social. – quando os mestres enveredavam pela autocrítica, agiam como o seu colega da universidade, Agostinho da Silva, quando dizia que o que importava não era educar, mas evitar que os seres humanos se deseducassem:
“Cada pessoa que nasce deve ser orientada para não desanimar com o mundo que encontra à volta.”
Seremos capazes de nos desenvolvermos, de reencontrarmos o que em nós é extraordinário – e transformaremos o mundo.
No discurso sobre educação, a palavra utopia é, geralmente, sinônima de impossibilidade. Porém, utópico será algo que indica uma direção, que requer intencionalidade e ação. Concretizar utopias – recriar vínculos, rever e re-olhar, reelaborar as práticas – reconfigura a metáfora do Mito de Sísifo, o inédito viável freiriano.
A nova educação, que emerge do sonho de todos nós, deverá formar o cidadão democrático e participativo, o ser humano sensível e solidário, fraterno e amoroso, que opte pelo exercício comum de organizar publicamente um discurso, de argumentar com os demais, com gente que não pensa do mesmo modo, de encontrar bases até para discordar. É isso que faz de uma aula um acontecimento incontornável – quando o discípulo está pronto, o mestre surge.
Ainda há professores que aprendem, mesmo já aposentados. Que se apercebem da sua incompletude e sabem que o ser humano está em permanente estado de projeto, de reelaboração da cultura pessoal e profissional.
De uma Escola agonizante vemos emergir práticas protagonizadas por educadores, que compreenderam que escolas não são edifícios. Congratulo-me com a iniciativa de universidades, que se assumem como “multidiversidades”. E reconheço no afã dos mestres de antanho alguns pontos de luz, pontos de partida para uma reflexão necessária e urgente.
“Quando e como se aprende? Acredito que professores dão aulas sem saberem muito bem como e por que conseguem se equilibrar no arame das experiências das suas aulas. Muitíssimas não dão certo e imediatamente se percebe quando isso acontece na cara e no corpo dos alunos.
Se o professor tem alguma coisa de ator? Todos nós somos atores.”
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