Nos idos de setenta, os primeiros tempos do projeto “Fazer a Ponte” foram feitos de ousadia, tempos de desobedecer. Situações vis vividas em lugares onde uma nova educação acontecia foram a gota de água que faltava para fazer transbordar um copo meio-cheio de indignação.
Até 2004 – ano da celebração do primeiro contrato de autonomia – confrontamos um “sistema” obsoleto, autoritário e corrupto com as suas contradições e trágicos efeitos. O modelo de ensino imposto às escolas dera origem a um genocídio educacional. E as obsoletas práticas não resistiram ao ímpeto de sete perguntas:
Por que aprendemos? O que precisamos aprender? Quando aprendemos? Onde aprendemos? Com o quê e com quem aprendemos? Como aprendemos? Como sabemos que aprendemos?
Sem pretender replicar o processo de autonomia e emancipação da Escola da Ponte, creio ser dever indeclinável apontar caminhos de Mudança e de Inovação, sugerir a desobediência a regulamentos injustos, para cumprir a Lei de Bases e a Constituição, de modo a garantir a todos os seres humanos o direito à Educação.
O estudo das sete questões essenciais é a primeiras das tarefas que vos proponho realizar, a par de um exercício de regeneração do “sistema”, da humanização da relação pedagógica e antropagógica e a conceção de uma nova construção social de aprendizagem.
Inventariei obstáculos e, a partir de amanhã, irei sugerir modos de os ultrapassar. Bastará invocar os pilares da educação da UNESCO e juntar-lhe mais três. Deveremos reaprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser, bem como a desobedecer, a reaprender e a desaparecer – a solidariedade deve andar a par com o dom do desapego – para que nasça no Sul uma Nova Educação, para um Novo Mundo, aquela que muitos visionários anunciaram, desde há mais de um século. Façamos jus à memória de Freire, Nise, Agostinho, Anísio, Irene, Lauro, Nilde, Rubem, um sem-fim de insignes educadores.
Ao longo de décadas, encontramos (e ultrapassamos) muitos obstáculos, os mesmos que outros projetos enfrentaram e que poderão ser distribuídos por sete tipos:
Primeiro obstáculo: eu, o próprio. Quando o educador não se disponibiliza para reelaborar a sua cultura profissional, de modo a garantir a todos os seres humanos à sua guarda o direito à educação, quando se deixa, moralmente, corromper, constitui-se no primeiro dos obstáculos.
Segundo obstáculo: o outro. Se o maior aliado de um professor é outro professor, o maior inimigo de um professor “diferente” é outro professor.
Terceiro obstáculo: a regulamentação da Lei. Artigos da lei que permitiriam mudança são neutralizados por uma regulamentação sujeita a uma racionalidade técnico-instrumental burocrática. Servindo-se de regulamentos obsoletos, ministérios agem como obstáculos à inovação, porque, ilegalmente, condicionavam ou mesmo destroem projetos enquadrados na… lei.
Quarto obstáculo: a normose. Alunos, parentes, opinião pública “achando” que a escola tem de ser igual ao que já foi.
Quinto obstáculo: uma sociedade doente de corrupção estrutural.
Sexto obstáculo: a formação de professores.
Sétimo obstáculo: os áulicos.
Para cada maleita encontramos um antídoto. E as cartinhas que se vão seguir serão pedaços de um mapa, de um “caminho das pedras” decorrente de uma primordial decisão ética. Amorosamente o percorremos, equipados com o quanto-baste de intuição, coragem, coerência e muito estudo.
Como diria o Mestre, a Educação é um ato de Amor e Coragem. Do que estamos à espera? “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
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