As obras do Mestre Darcy sobre a identidade da América influenciaram estudiosos latino-americanos críticos da visão eurocêntrica presente nos estudos sobre os povos originários do Brasil e do sul. Darcy afirmava que, nos trópicos, havia uma outra forma de se viver e de sentir a vida. A Educação do Sul não era o atraso, mas o futuro do mundo.
Vivia-se
um tempo de agitação e de esperança, mas a realidade era calamitosa. A Escola
Pública fora “sucateada”, eram elevados os índices de evasão de alunos e de
reprovação, num país que exilara uma geração de ouro de pedagogos, pioneiros do
escolanovismo, cujo legado poderia infletir a crítica situação. Decorridos
cinquenta anos, o panorama era idêntico ao da década de oitenta. A “escola
pública” se desenvolvera alheia a realidade locais, que era uma “grande peneira
de alunos”.
No abril de há vinte anos, atualizávamos e praticávamos
Darcy. Até então, o nome do insigne mestre apenas havia sido usado por
políticos e universitários em palestras tão festivas quanto inócuas.
Em
1976, a Ponte idealizara o real e realizará o ideal, pusera prática na teoria e
teorizara a prática. Porém, 50 anos depois, escutávamos os mesmos discursos,
ainda que ornados com novos termos para designar os mesmos assuntos. Meio
século decorrido, deparávamos com a sofisticação do discurso, que não
disfarçava o imobilismo e a miséria das práticas. E, também, as mesmas
perguntas, que escutei em seminários e congressos.
Em
2025, o amigo Matias formulava o que dizia serem “perguntas fundamentais”: i)
que pessoas queremos educar (educare/educere), ii) que sociedade queremos
construir, iii) que professores queremos nas escolas? iv) que escola queremos?”
(sic) E fechava o discurso com esta sentença:
“Depois
de respondermos a estas perguntas é que podemos chegar à IA e aos Prompts.”
(dispenso o comentário)
Decorreu
um quarto de século desde o encontro na casa que Niemeyer concebera para Darcy
viver os últimos dias da sua vida e a palestra realizada na Fazenda Itaocaia.
Recordo-me de, no final da palestra, a Adriana ter dito que, “já tendo em
Maricá a Casa da Maysa, a da Beth Carvalho e a do Darcy Ribeiro, só faltava a
do José Pacheco”. Não me deixei lisonjear, mas aceitei o desafio.
Quando
assumi ser cidadão maricaense, o convite foi reforçado pela secretaria de
educação, através da formalização de um “termo de referência”. Aceitei o
convite, adquiri um terreno e o entreguei à guarda de uma comunidade.
A
implantação de protótipos de comunidade de aprendizagem marcaria a transição
para práticas fundadas nos paradigmas da aprendizagem e da comunicação,
propiciadoras de um desenvolvimento local sustentável e de educação integral:
contemplando a multidimensionalidade da experiência humana – afetiva, ética,
sócio emocional, cultural, intelectual, espiritual.
Nos
anos anteriores, muitas vezes, subira o morro de Santa Teresa, para, na
fundação que levava o seu nome, aprender a “Praticar Darcy”. Atormentado
pelo torpor das metástases, Darcy ainda conseguiu traduzir “tudo o que o Brasil
poderia ser e ainda não era”.
“O povo
brasileiro” é reflexo do convívio com as comunidades do Xingu, uma mistura de
experiências colhidas na espiritualidade africana, na sabedoria e tecnologias
sociais de portugueses, italianos, alemães, japoneses, judeus, árabes e outros
povos, que constituíam um criativo caldo cultural. Mas como disse o Mestre, esse
enorme potencial foi historicamente “entravado pela classe dominante medíocre
que impede o desenvolvimento da civilização brasileira”.
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