Netos queridos, surpreendestes-vos com a minha afirmação de que o velho Sistema já não mereceria o benefício da dúvida. Mas, foi justa a minha afirmação, apesar das tentativas de interromper o estertor do Sistema, perpetrados por embusteiros de origem vária.
Nos
idos de vinte, a escola permanecia estagnada, imersa num pântano de absurdos. Arcaboiços
da escola da modernidade tinham perdido sentido e legitimidade. Lamentavelmente,
o discurso acadêmico insistia no recurso a conceitos e práticas fósseis, ainda
que assumindo um “novo visual” – e estava em voga o chamado “ensino híbrido”.
Explorando
a ingenuidade pedagógica da “sociedade líquida”, empresas assaltavam o mercado
da educação com o novo “produto”. Iludindo professores de boa-fé. As aclamadas “boas escolas” de educação
híbrida eram caricaturas de práticas centenárias ornamentadas com computadores
e Internet.
Não
poderia faltar a famigerada “sala de aula invertida”. Dela se dizia “colocar o
aluno como protagonista”. Grosseira mentira! Era o professor quem “sugeria”
(belo eufemismo!) o conteúdo a consumir. Quanto muito, havia uma ou outra busca
feita pelo aluno. Em sala de aula (instrucionista!), alunos e professor discutiam
em grupo.
Celestin
Freinet havia feito o mesmo – e fora mais além! – utilizando ficheiros
autocorretivos, no início da década de vinte… do século XX – era ridículo
chamar “inovação” à aula invertida.
A prática “híbrida”
do modelo “Flex” – como era chamado – consistia em fornecer ao aluno
“uma série de atividades a serem realizadas on-line”. Os professores estariam à
disposição do aluno, para tirar dúvidas. Isso havíamos feito na Ponte, nos idos
de setenta, tempo em que ainda não havia computadores. E de modo bem mais
elaborado, porque as “atividades” não eram concebidas pelo professor e impostas
aos alunos; eram construídas com os alunos, segundo a velha tradição escolanovista.
Outro
modelo indevidamente designado de inovador era o “laboratório rotacional”. Os
híbridos” eram hábeis a criar termos de belo efeito, criativos apenas no
discurso. Em que consistia o “laboratório”? Num “giro dos alunos em estações,
por diferentes modalidades de aprendizado”. Skinerianamente, em cada estação,
poderia ser utilizado um recurso diferente. Não se tratava de “aprendizado”,
mas de “ensinado”, dado que as “estações” eram planejadas por auleiros, o número
de estações e o tempo em cada estação eram determinados por auleiros. Cadê o
“sujeito de aprendizagem”? Cadê a “inovação”?
Com
a descoberta do computador, a segunda revolução industrial emergiu, para logo
dar lugar a uma terceira, aquela que surgiu com a internet e a automação. Os
“híbridos” do século XXI apropriavam-se do discurso escolanovista, para maquiar
o instrucionismo de entre a primeira e a segunda revolução industrial, em
práticas do tempo da máquina a vapor. A escola “híbrida” continuava tão
obsoleta como no tempo em que o telégrafo dera lugar ao telefone.
Embora
possais ter ficado surpreendidos com o meu comentário, o “Sistema” já não era
merecedor do “benefício da dúvida”. Conscientes da necessidade de o regenerar,
educadores éticos assumiram a causa, no novembro de 2025 – disso vos falarei.
No
11 de agosto de 24, era criada a Associação da Comunidade de Aprendizagem da
Lagoa de Maricá. Foi a partir dela que surgiram os primeiros círculos de
aprendizagem. Num primeiro ciclo de mudança, ali se fez uma Escola da Ponte
brasileira e se esboçou um lócus de “residência pedagógica”. Depois, ali se
gestou uma rede de comunidades. Depois…
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