Foram muitas as horas de viagem pelas estradas do interior da Bahia, vendo garrafas e latas arremessadas por energúmenos, que dirigiam automóveis, ultrapassando em curvas. No rádio do carro, quase tudo era lixo sonoro – na terra de Caymmi, Caetano e Bethânia, nem uma só vez escutei as suas vozes. A caminho de Caetité, passei por Brumado. Ali, na margem do São Francisco, o povo sofria de... falta de água potável. O que terá tudo isso a ver com a Educação e com o Anísio?
Anísio postulava que o aluno deveria ser o
centro do processo de aprendizagem, mas a administração educacional impunha às
escolas práticas instrucionistas, nas quais o centro era o professor.
Uma secretaria citava Anísio no
documento orientador da política educacional do estado (“Currículo em
Movimento”). Mas o currículo imposto às escolas pela secretaria de educação
impedia o “movimento”, estava parado no tempo.
Os funcionários dessa secretaria chamavam
“escola classe” e “escola parque” – conceitos criados por Anísio – a alguns
prédios que, nesse tempo, eram considerados “escolas”. Mas as práticas
desenvolvidas dentro desses prédios eram em tudo contrárias à proposta do Anísio
da “Escola Nova”.
A escola-classe, que Anísio tentou instalar
em Brasília, em meados do século passado, foi rechaçada, em abaixo-assinado,
pela população de um bairro de classe média alta, com o apoio da administração.
E, nesse já distante 2020, os burocratas instalados nas secretarias da educação
assassinavam projetos que, concretizados, tornariam realidade o sonho
escolanovista e assegurariam a todos o direito à educação. Impunemente, a
burocracia perpetrava o segundo assassinato de Anísio Teixeira: a morte da
memória.
Desde
que me conheço e me reconheço como professor, o amigo Nóvoa pregava no deserto,
dizendo ser necessário passar do pedocentrismo para a aprendizagem, da
normalização para a diferenciação, da separação para a reunião.
Enquanto
isso, os seus colegas da academia e do ministério faziam-se desentendidos,
irredutivelmente se mantendo… pedocentrados, normalizados, separados. Enchiam a
boca de Anísio, Anísio para cá, Anísio para lá, em devaneios teóricos sem fim. Mas,
na prática traíam Anísio. Também, teorizavam
Darcy sem praticar Darcy e veneravam
Freire enquanto praticavam “educação bancária” – eram freirianos não
praticantes.
As
escolas do passado eram cemitérios de talentos, túmulos de inovações. A escola
absorvera funções tradicionais da família e da vida comunitária e que à vida
comunitária deveria ser devolvida, dado que, nas palavras do mestre Anísio, “a
educação de um povo somente em parte se faz pelas suas escolas”.
Lamentavelmente,
no tempo de potencial mudança, ao invés de se retomar Anísio, apenas se
disputava uma cadeira de ministro ou
secretário. Mais uma vez, se hipotecava o futuro da educação, a troco de
negociatas de baixa política. Não se cuidava de preparar a atualização da
mensagem do malogrado Mestre, que pugnava por uma nova escola, aquela
substituísse a reprodução de “formas arcaicas de ensino pela exposição oral e
reprodução verbal”.
Anísio
estava consciente de que, para haver inovação pedagógica, se requereria
inovação normativa. Não poderíamos continuar estrangulados pelo legalismo, que o
Mestre criticava: “como se alterar a posição de uma disciplina no currículo ou
diminuir-lhe ou aumentar-lhe uma aula fosse considerada uma ‘reforma de ensino’”.
Por falar em currículo, aproveito
para vos lembrar a necessidade da criação dos Grupos de
Trabalho (GT locais e os municipais).
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