Na década de sessenta, Lauro tinha publicado a obra “Escola da Comunidade”. E era de comunidade de aprendizagem que o mestre Anísio, a seu modo, nos falava. O malogrado Mestre pugnava por uma nova escola, que substituísse aquela que reproduzia formas arcaicas de ensino pela “exposição oral” e “reprodução verbal”. Uma nova escola, irmanada com outras instituições de transmissão da cultura, “em uma comunidade altamente complexa e de meios de vida crescentemente especializados”.
Porém,
status quo res erant. No Brasil da educação ainda impera
o teoricismo, o tráfico
de influências e a
“incompetência especializada”, reforçadas pela
indiferença de uma sociedade civil apática. Mutatis mutandis, os
regulamentos paridos pelas secretarias da educação e pelo ministério nada
mudam, nada alteram, são concebidos como meros paliativos dos males do
“sistema”. O problema não é meramente conjuntural.
Funcionários movidos por Interesses corporativistas ou outros obscuros
interesses fomentam corrupção; teoricistas encartados são a base desse hierárquico
e autoritário sistema.
Anísio Teixeira recomendava “fazer escolas nas proximidades das áreas
residenciais, para que as crianças não precisassem andar muito para alcançá-las
(…) atividades na biblioteca, nas quadras de esporte (…) reorganizando os tempos”.
Anísio sabia que a delimitação do território educativo não era apenas uma
questão de natureza geográfica: “O
estudante não é só da professora ou da escola, e sim da rede, da Cidade (…) em
praças, clubes, cinemas, comércio local, teatro (…)”. E concluía:
“O aumento do tempo de estudo deve vir acompanhado da ampliação do acesso
dos estudantes aos espaços múltiplos para apropriação da cidade e de seus
saberes”.
Mas, tal não aconteceu. Não se trata de deslocar a atividade
escolar para outros espaços, escolarizando ainda mais a família e a sociedade,
mas de desenvolver a perceção dos territórios como elementos educadores, por
meio dos quais se aprende, participando de transformações pessoais e sociais.
As escolas permanecem socialmente
isoladas, fundadas em estranhos rituais e contraditórios hábitos, jamais
questionados, à imagem e semelhança das congéneres académicas… no contexto de
um sistema de ensinagem hierárquico – “o exemplo vem de cima”.
Urge concretizar um re-ligare
família-sociedade-escola. Por que não considerar as escolas como espaços
públicos, nodos de redes comunitárias, devolvendo as escolas às comunidades, na
partilha da responsabilidade de educar?
Entre a escola, a habitação, a
associação cultural, a biblioteca pública, o local de trabalho, seria
necessário estabelecer uma corrente de interação humana capaz de dar sentido ao
quotidiano das pessoas e, assim, influenciar positivamente as suas trajetórias
de vida. O Mestre Lauro isso propunha, já na década de… sessenta.
Perguntastes:
Por que motivo insisto em falar de Anísio – vos respondo.
Na cartinha de ontem, citei autores
incessantemente referidos em documentos oficiais, textos-bases de reformas,
teses e outras produções de ficção científica pedagógica.
Os seus autores enchem
a boca de Anísio e traem a memória de Anísio. Festejam Darcy, mas são
incoerentes – não praticam Darcy. Teorizam Freire, demonizando a “educação
bancária”, mas são freudianos não-praticantes.
Em
breve, vos falarei de castas seitas e confrarias pedagógicas onde se acoitam
teoricistas e
quejandos. Por agora, apenas vos recordarei uma tarefa que precisais cumprir
nesta semana: conceber roteiros de pesquisa.
.png)