Prometi-vos uma listagem de iniciativas ministeriais conduzidas por universitários teoricistas, mas, para começar, precisarei dizer-vos por que razão todas as iniciativas não lograram melhorar os sistemas de ensino.
Os
documentos-bases desses projetos eram, teoricamente, irrepreensíveis – eu os
subscreveria – mas, na prática, eram incoerentes. Na década de sessenta e
início dos anos setenta, fui escutar os universitários que elaboraram os textos
de tímidas reformas, me inscrevi em formações, acreditei no discurso, embora já
desconfiasse da justeza de algumas propostas, por saber que estavam longe da
realidade vivida nas salas de aula do tempo da ditadura. O personalismo de
Mounier e o ensino individualizado do Dottrens estavam presentes nos textos de
abortadas reformas do tempo da ditadura, mas totalmente ausentes das práticas
dos seus autores.
Após
a abertura democrática, desalentado por ver perder tantas oportunidades de
mudança, já apenas dirigia um veemente apelo aos universitários teoricistas –
pedia-lhes que usassem de algum pudor. Hoje, volto a pedir-lhes humildade, honestidade
intelectual porque, quando divulgam práticas (ditas) “inovadoras” não se
apercebem de que estão a incorrer em mistificações – é porque é falsa a
afirmação de que seja possível contemplar a diversidade ou assegurar “inclusão”
em escolas organizadas em turmas, anos de escolaridade, ou dizer-se que em sala
de aula é possível praticar educação integral.
Se
eu estiver errado, peço aos eventuais leitores que me deem o endereço de uma
prática “inovadora” – aquelas que vi serem apresentadas em formações e
seminários não o são.
Desperdicei
algum tempo a escutar uma nova geração de formadores em ações de formação de
cuspe e power point, lições magistrais em que discorriam sobre inclusão,
diversidade, direitos humanos, equidade, educação integral e outros “modismos”.
Recorriam à sofisticação de um discurso, que eu escutara, há 20, 40, 50 anos, informação
reciclada, extraída de dissertações e teses, mera teorização de teorias.
Distribuíam informação que os professores-formandos poderiam obter em livros,
sem necessidade de pagar para os escutar.
Quando,
em 1992, foi criado o subsistema de formação contínua, uma multidão de
teoricistas nele se atirou “como gato a bofe” e transformou um processo
formativo generosamente financiado numa grande mentira construída sobre muitos
milhões de euros.
Será
necessário que os ministérios escutem a voz do bom-senso e deixem de acreditar
em mercadores de modismos, universitários teoricistas e pseudo-vanguardas
pedagógicas. E lamento que quem se diz adepto de uma educação democrática e
inclusiva exclua o pensamento divergente. Lamento que quem se reclama de
defensor do “direito à fala” recuse o debate com quem desenvolve projetos de
mudança com potencial inovador. Urge conceber um
projeto de educação, que dialogue com um projeto de país e torne os estudantes
capazes de construir projetos de vida, de vida cidadã.
Na
segunda metade do século XX, bem acompanhado por Anísio, Cecília, Eurípedes, Nilde,
Darcy e outros educadores do Sul, o português imigrado Agostinho da Silva
traduziu obras de “utópicos”, para lançar sementes de renovação na educação. Nos
anos vinte, há escolas “utópicas” nos brasis da educação, lugares de ousadas
transformações. No canto das almas sensíveis, que as habitam, não cabe o medo –
existe prudência.
PS:
Relembro tarefas a cumprir:
Desenvolvimento do currículo da subjetividade, de
comunidade e universal.
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