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Cotia, 3 de dezembro de 2025

Nas cartinhas de outubro e de novembro, publiquei documentos fundadores de projetos com potencial inovador, juntando-lhes uma espécie de “lista de verificação”, componente de um processo formativo que, no decurso de dezembro, será testado. Em 2026, criaremos protótipos de mudança educacional, locus de “residência pedagógica”.

Irei propor à minha amiga Edilene que a Escola Aberta de São Paulo venha a constituir-se como o primeiro dos protótipos. Outros se lhe seguirão.

Em breve, a minha amiga irá publicar um excelente livro. Li-o, atentamente. É o primeiro “tratado de educação” que li, desde que tive acesso às obras do Mestre Lauro – uma escrita isenta de teoricismo e reveladora de um saber-fazer incomum.

No novo livro, a minha amiga faz o luto da Escola do Projeto Âncora:

“Meses depois de deixar o Projeto Âncora, em novembro de 2018, para iniciar um novo ciclo com a Escola Aberta de São Paulo, vivi um dos momentos mais difíceis da minha trajetória na educação. Foi doloroso, profundamente triste, acompanhar à distância o implodir do Âncora enquanto escola — justamente no auge de sua potência.

A Escola Projeto Âncora havia se tornado uma das maiores referências em inovação educacional no Brasil e no mundo. Premiada nacional e internacionalmente, destaque em reportagens, jornais, programas de TV e documentários, recebia cerca de 70 visitantes por semana. Era uma ebulição de troca, encantamento e reinvenção da escola como espaço de convivência, autonomia e sentido.

Quando saí, deixei para trás um lugar vivo, pulsante, cheio de possibilidades. Claro, como todo projeto social, os desafios de sustentabilidade financeira sempre estiveram presentes. Discutíamos isso com frequência, era pauta constante — mas o que levou ao fim do Âncora como escola foi muito além do dinheiro. Foram as disputas ideológicas, os jogos de poder, os desvios de propósito.

Em vez de fortalecer os princípios da educação democrática e inovadora, alguns passaram a mirar outros interesses — interesses que nada tinham a ver com a construção coletiva, com os valores humanos ou com o protagonismo das crianças. A Escola Projeto Âncora havia se tornado uma marca forte, carregada de significado, e infelizmente, isso também a tornou alvo”.

A partir de 2011, com a Claudia, a Edilene e um punhado de excelentes educadores, ajudei a conceber um projeto, que foi alvo de gente de baixa estatura moral e da corrupção económica (uma das caraterísticas do “sistema”).

Em meados da segunda década deste século, fui apresentá-lo na Europa, na Ásia, em encontros internacionais, ao lado de projetos da Finlândia, por exemplo. E foi consensual a conclusão de que o Brasil dispunha do projeto mais inovador de quantos nesses encontros foram apresentados. Talvez por isso, o tivessem destruído. 

Dezembro será o mês de retomar projetos suspensos e de consolidar aqueles que, sobrevivendo, se mantiveram fiéis a princípios. O 14º ENARC – Encontro Nacional dos Românticos Conspiradores dará a conhecer projetos que o Brasil talvez desconheça e que são o que de melhor o “sistema” possui. No dia 20 de dezembro, o Encontro será realizado em Maricá e na Internet (formato “be learning”).

Em 2026, protótipos com potencial inovador se constituirão numa rede de comunidades de aprendizagem – palavras e expressões como “inclusão”, “educação integral”, ou “inovação” deixarão de ser usadas apenas em teorizações de teorias e assumirão forma concreta. Será disponibilizado um projeto de formação, que culminará com prática de “residência pedagógica”.

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