O primeiro dia dezembro é feriado nacional em Portugal, assinalando a Restauração da Independência operada em 1640. A data nos recorda que direitos e liberdades nunca são garantidos de forma permanente — exigem vigilância e participação. Outra data e feriado importante é o 10 de junho. Há alguns anos, nesse dia se realizou um colóquio subordinado ao tema “Problemas da educação em Portugal” (sic) e o mote do evento era bem sugestivo:
“O que pediria Camões às ninfas para a escola
pública? Se Camões ainda fosse vivo, o que pediria às ninfas do
Tejo, no momento de escrita da sua obra panegírica, para a escola pública
portuguesa”?
Creio que o vate pediria aos professores que não
levassem os seus alunos a odiar “Os Lusíadas” e que os promotores do tal
colóquio se apercebessem de que agiam “num engano de alma ledo e cego, que
afortuna não deixa durar muito” – ou, como diriam os brasileiros: que não
agissem “como cegos no meio de um tiroteio”.
O
movimento chamado
“Missão Escola Pública” tinha
enviado ao Governo uma espécie de “ultimato”. Intimava o Governo a apresentar “medidas
que resolvessem os principais problemas da educação em Portugal”.
Quais seriam? – perguntei aos meus botões. E logo
veio a resposta: “o modelo de gestão, a falta de exigência dos curricula, o
modelo de avaliação docente, a tão apregoada Inclusão e a indisciplina”, os
habituais “problemas”, idênticos aos de outras “missões” e “movimentos”, de que
tenho memória, nos últimos 50 anos.
Os “aprendizes de feiticeiro” da Educação não
sabiam que esses “problemas” decorriam de um problema maior – quando
me perguntavam qual era o maior obstáculo à mudança, eu respondia:
“Eu
sou o maior obstáculo à mudança. Tu és o maior obstáculo”.
E
completava a resposta com algumas “perturbadoras” afirmações:
“O
maior obstáculo é a minha cultura profissional, a nossa cultura profissional.
Para deixar de ser um obstáculo, preciso é tomar a decisão ética de reelaborar
a nossa cultura pessoal e profissional.”
A
formação era o nó górdio da Mudança e da Inovação.
Quando
aluno ciências da educação, fiquei desagradavelmente surpreendido. Já levava 20
anos de Escola da Ponte, pensava que já não havia salas de aula na universidade
(pelo menos nas faculdades de educação), mas foi o que encontrei.
Quando
aceitei o convite para trabalhar na universidade, deparei com a mesma situação:
salas de aula, turmas, “registos de presenças” para assinar, testes, notas, a
tralha do modelo educacional dos séculos XVIII e XIX.
A
formação de professores que, nesse tempo, se fazia considerava o formando como objeto
a quem, supostamente, se iria transmitir informação, quando deveria ser tomado
como sujeito em autotransformação. A formação de professores continuava imersa
em equívocos. Sabíamos que um formador não ensinava aquilo que dizia, mas
transmitia aquilo que era. Mas, ainda havia quem ignorasse a existência do
princípio do isomorfismo na formação. Prevaleciam práticas carentes de
comunicação dialógica, culturas de formação individualistas e de
competitividade negativa, de que estava ausente o trabalho em equipe.
O
que impedia que professor fosse considerado sujeito de aprendizagem na
dignidade do ato de autoformação em equipe? Contando com bons professores
universitários, por que razão a universidade do século XXI continuava a
reproduzir um modelo social e escolar do séc. XIX?
No
dezembro de 2025, pusemos em prática uma formação capaz de apoiar os educadores
em processos de reelaboração da sua cultura pessoal e profissional.
Vos
contarei o que aconteceu.
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