Eis-nos no dia da Senhora da Conceição. Recordo bons tempos em que eu ensaiava o coro da igreja da Senhora da Conceição – já nessa altura, pedia a interseção da Virgem para a proteção das crianças vítimas de um genocídio educacional: Que Nossa Senhora nos valha!
No
alto do Morro da Conceição, no norte de Recife,
vê-se de longe a imagem de uma santa, com um manto azul e branco e o olhar
voltado para os fiéis, Nossa Senhora reúne devotos ao longo de todo o ano,
especialmente em dezembro, quando acontece uma festa centenária que, no ano da
graça de 2025, teve a participação de cerca de dois milhões e meio de devotos.
A
padroeira de Recife era a Nossa Senhora do Carmo, mas a "Dona Ceiça",
apelido carinhoso dado à Senhora da Conceição pelos recifenses, era considerada
a "padroeira do coração".
No dia anterior à Festa da Padroeira muitos milhares
de manifestantes realizaram atos no Recife e em outras cidades,
para protestar contra o aumento dos casos de feminicídio e de outras formas de
violência contra as mulheres.
O
Brasil havia registrado mais de mil casos de feminicídio naquele ano.
E no exato dia das manifestações a Daniele, de Santo André, e a Milena, de
Diadema, foram assassinadas pelos seus companheiros. Outra mulher ficou
internada em estado grave.
E
o que teria isso a ver com… educação? Tudo! A Família, a Sociedade e Escola
desses sombrios tempos reproduziam modelo educacional genocida, que os paliativos
introduzidos no sistema de ensino e a cosmética ministerial não conseguiam
disfarçar.
A propósito, eis mais um pedaço do relatório de que,
ontem, vos falei:
“Urge
criar condições de assegurar a universalização do acesso à escola e a
permanência com êxito no decorrer do percurso escolar de todos os estudantes. Com
esse objetivo, foi realizado um diagnóstico do estado da educação em 74
escolas, num estado e num município (…) A partir de um breve levantamento,
serão criados indicadores fiáveis e elaborado um novo protocolo de avaliação. Aquilo
que, por ora e em síntese poderei referir, a partir de observações, entrevistas
e reuniões nas escolas, é o seguinte:
O
IDEB continua estagnado entre o índice 5 e o índice 6. Iniciativas como a contratação
de assessores e consultores, ações de formação, palestras, programas, projetos
e outras diligências não lograram melhorar as aprendizagens, não houve impacto
significativo.
Quando iniciei a colaboração com professores
envolvidos em projetos de mudança, deparei com a existência de listas de espera
nas escolas. Isto é: jovens em idade escolar não estavam matriculados, por
alegada “falta de vaga”, e uma administração
burocratizada impedia a transformação das práticas escolares.
Em
pleno século XXI, um sistema de ensino sedimentado e obsoleto obriga os
professores a práticas escolares do século XIX. As unidades escolares dispõem
de escassa margem de autonomia. Quando interpelados relativamente a absurdos
procedimentos, diretores de escola dizem “obedecer a ordens superiores” e à
“lei da secretaria”. Professores desprovidos de senso crítico, subjugados pelo
dever de obediência hierárquica geram alunos acríticos, incapazes de lidar com rápidas
mudanças sociais.
Numa
breve e incompleta análise (dados que solicitei,
nomeadamente, no que se refere ao custo aluno-ano, não me foram fornecidos)
verifiquei que a maioria dos alunos estão abaixo do nível 2 em matemática,
patamar que a OCDE estabelece como necessário para que o estudante possa
exercer plenamente sua cidadania. E é elevada a quantidade de alunos
analfabetos literais e funcionais.
.png)