Com o avanço da tecnologia comunicacional, a dimensão do espaço físico não impede a conexão com o mundo. Pensando globalmente e agindo localmente, aproximávamo-nos do conceito e da prática de “comunidade de aprendizagem”.
A produção
acadêmica, que toma por objeto a comunidade
de aprendizagem, consagra o princípio do diálogo igualitário. Esse princípio
estabelece que, nos espaços de tomadas de decisão, a comunicação deverá basear-se
na força dos argumentos e não em posições de poder. Mas, será possível conciliar o “diálogo igualitário”
com a manutenção de uma gestão de escola hierárquica?
Quando se assume
que, em comunidade de aprendizagem, se busca trabalhar a gestão da escola em
uma perspectiva democrática, participativa e dialógica, por que não se
substituí os órgãos de gestão unipessoais por colegiados? A gestão escolar não
poderá ser democrática, através da introdução de um órgão de gestão paralelo
aos órgãos de gestão tradicionais, ignorando que os diretores estão sujeitos ao
dever de obediência hierárquica.
Doutores em
Educação e burocratas ministeriais desvirtuaram o projeto das “comunidades de
aprendizagem” proposto pelo Agostinho, pelo Flexa, pelo Lauro. No modo como as
assimilaram, as chamadas “atuações educativas
de êxito”,
nomeadamente a
“tertúlia dialógica” e a “biblioteca tutorada”, poderiam ser consideradas
inovações?
Não o eram! A
ministerial domesticação do ”Includ-ed” determinava uma noção reducionista, distorcida, do
conceito do chamado “grupo interativo”.
Não fazia sentido que a leitura de um livro, no contexto de uma “tertúlia
literária dialógica” fosse remetida para o domínio da sala de aula. Nem se
percebia por que razão a “biblioteca tutorada” era um espaço aberto em horário
contrário ao da sala de aula.
O que se sabia
era que um princípio básico de Ramon Flexa, o “diálogo igualitário” deturpado
introduzia novas regulações, comprometia o exercício da autonomia. Nas redes de
protótipos de comunidades deparamos, hoje, com estes e muitos outros obstáculos
à inovação. Na Ponte, conseguimos ultrapassá-los mediante a celebração de um
contrato de autonomia.
Chegados a 2025,
“comunidade de aprendizagem” só existe nas teses de doutoramento e em palestras
de cuspe e power point. Por isso, encarecidamente, pedi que jamais usassem a
expressão “comunidade de aprendizagem”. Quanto muito, aqueles que não levavam a
escola para a comunidade nem a comunidade para escola, poderiam afirmar que
desenvolviam um projeto de comunidade de aprendizagem – um projeto! –
consagrando o princípio de que escolas são
pessoas e não prédios.
Cheguei mesmo a suplicar que não evocassem o
nome de Darcy em vão, se não lhe juntassem Lauro e Anísio e que, se continuassem
a encher a boca de “sala de aula”, não ousassem dizer que desenvolviam projetos
de educação integral, porque é muito feio mentir.
Aquilo
que existe é uma coleção de caricaturas de novidades e modismos pedagógicos. Dar-vos-ei
um exemplo de maus-tratos dados teoricistas. Nos idos de 60, deficiente era
chamado de “deficiente”, sem mais nem menos; na década de 70, passou a ser
“aluno de integração”; nos anos 80, “aluno com necessidades educativas
especiais”, quando adentramos os 90, passaram a ser chamados “alunos de inclusão”;
na viragem do século, ganharam o epiteto de “atípicos”; mais recentemente”. Que
mais irão os doutorzecos inventar?
Quando
chegamos a 2025, doutores e palestrantes enchem a boca de “neurodivergentes”
num novo e sofisticado discurso, que nada acrescenta ao que, na prática, se
faz.
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