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Sol Nascente, 9 de dezembro de 2045


O relatório de que vos tenho falado foi encontrado no baú das velharias, numa das minhas viagens a Maricá. A síntese, que vos tenho dado a conhecer, continha uma epígrafe da autoria do amigo Luckesi:

“Importante é interromper a matança de crianças (nas escolas) e evitar a exterminação no embrião de milhões de gênios.”

Nos relatórios que, anteriormente, eu enviara para o IBICT, para secretarias de educação, para ministérios e quejandos descrevi atividades a serem realizadas com vista à testagem e confirmação de indicadores, acompanhadas de um Projeto de Formação, de um Plano de Inovação e uma proposta de cronograma.

Até que, chegados a 2025, a pedido do Ministério da Educação, enviei a mesma documentação para pessoas em que eu ainda acreditava – nesse tempo, ainda havia gente séria nos órgãos de decisão – uma proposta de aperfeiçoamento do projeto de Educação Integral.

Acrescentava que a proposta de continuidade e validação dos dados obtidos no processo de pesquisa carecia de uma revisão de conceitos como, por exemplo: “inclusão”, democraticidade”, “autonomia”, “educação integral”, “currículo”, “comunidade de aprendizagem” e “educação de boa qualidade”, bem como de indicadores propostos pelo Ministério da Educação.

Sugeri a construção de indicadores testados em três escolas de Maricá, contrapostos aos recolhidos num protótipo de comunidade. A avaliação comparativa permitiria obter dados úteis à gradual adaptação das escolas ao formato de uma nova construção social de aprendizagem, através de uma formação de professores com referência ao trabalho desenvolvido em protótipos de comunidade de aprendizagem, bem como subsidiar a elaboração, a implementação e a avaliação de planos e programas.

No decurso da pesquisa e através da realização de entrevistas direcionadas a diretores, coordenadores e professores, realizei o diagnóstico possível dos indicadores educacionais propostos para a educação básica.

A estrutura física das escolas foi considerada pelos entrevistados como inadequada, em termos de dimensionamento, conforto térmico e iluminação. Foi dito que o projeto arquitetónico não contribuía para uma boa aprendizagem, agravado pelo desconforto e inadequação dos espaços. Mesmo tendo o ambiente natural como “vizinho”, as escolas não tiravam partido desse espaço de potencial aprendizagem, ficando restrita a aprendizagem a ambientes confinados.

Ações voltadas para a qualidade ambiental, como a coleta seletiva, eram realizadas parcialmente, mas essa ação não se integrava, de forma efetiva, num Sistema de Limpeza Urbana. E o incentivo ao uso racional da água restringia-se a uma incipiente conscientização, não considerando a necessidade, por exemplo, da coleta de água de chuva ou seu reuso.

Relativamente às práticas de avaliação, não ficaram claros os processos utilizados e resultados que subsidiassem a melhoria da qualidade da prática pedagógica.

No que se referia à avaliação de desempenho profissional, nenhum instrumento foi apresentado pelos gestores. Não existia uma sistemática de avaliação do profissional.

Uma das escolas informou estar em processo de reformulação do seu PP-P, não tendo apresentado registro de valores, princípios ou objetivos fundadores do documento.

Uma escola não permitiu acesso ao seu PP-P. A quase totalidade dos professores não soube dizer qual a matriz axiológica do seu projeto ou, por exemplo, o que ele propõe como critérios de avaliação.

Na cartinha de amanhã, prosseguirei a síntese do relatório.

Ficai em paz!

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