E assim nasceu o primeiro dos protótipos de comunidade de aprendizagem. Outros se seguiriam, provando a possibilidade de haver Escola Pública.
Retomei
a leitura do belo livro publicado pela minha amiga Edilene, em 2025:
Foi injusto. Foi desumano. Em alguns momentos,
até imoral. Com os educadores. Com as crianças. Com todos que acreditaram e
deram tudo de si para manter vivo um projeto que inspirava o Brasil e o mundo.
Sugaram a alma do que o Âncora representava e, depois, tentaram apagar seu
legado. Histórias inacreditáveis precisariam ser contadas para justificar o
injustificável. Talvez um dia eu tenha coragem — e serenidade — para narrar em
detalhes tudo o que vi, ouvi e acompanhei, mesmo já estando mergulhada na
construção da Escola Aberta. O fim do Âncora como escola foi, para mim, o fim
do mais promissor projeto de educação inovadora do Brasil. Mas, ao mesmo tempo,
sua essência, seu espírito de reinvenção, não morreu. Ele continua,
transformado, resistindo em outras formas, em outros territórios — como a
Escola Aberta de São Paulo. Porque ideias verdadeiras não desaparecem: elas se
espalham. Ainda no início de 2019, mesmo durante a sobrevida do Projeto Âncora,
o sonho da Escola Aberta de São Paulo já estava sendo gestado. O novo projeto
foi pensado como uma continuidade do que havia sido construído, mas com a
intenção de "passar a limpo" a experiência anterior, corrigindo os
erros e aprendendo com as dificuldades vividas. A ideia era criar um modelo de
escola mais resiliente, mais conectada com a realidade contemporânea e que
pudesse atender, de maneira mais eficaz, às demandas educacionais, sociais e
políticas do momento. A Escola Aberta de São Paulo foi idealizada para ser um
espaço que refletisse a diversidade e as desigualdades sociais do Brasil, em
especial da cidade de São Paulo, onde está. A escolha do local para a nova
escola não foi por acaso: optamos por um ponto que representasse a configuração
sociopolítica da cidade, ou seja, as disparidades entre as diferentes classes
sociais e as necessidades educacionais de famílias em situação de
vulnerabilidade social e política. Em 2019, a Escola Aberta encontrou seu novo
lar no distrito da Vila Sônia, na zona sul de São Paulo, perto do parque
municipal Chácara do Jockey, que se tornou o nosso "quintal". A
localização foi pensada para refletir a diversidade de contextos sociais que
compõem a cidade. A Vila Sônia é um lugar de contrastes: por um lado, áreas
mais populares, como o Jardim Jaqueline, que abriga uma comunidade de
vulnerabilidade social; e por outro, regiões com um perfil mais elitizado, como
os empreendimentos imobiliários próximos (…)”.
Na
viagem para Feira de Santana, Alma lia um livrinho, que publiquei nos idos de
vinte e quatro e que dava pelo título de “Escola Pública”. Nele escrevi:
“Dez
anos depois de Reggio, a Ponte conseguira colocar o aluno no centro do processo
de aprendizagem. e no mesmo ano (1976), Georges Bastin publicava o seu livro “A
hecatombe escolar”. O prefácio assim rezava:
"Este
livro destina-se a pais ansiosos com as dificuldades que os seus filhos sentem,
aos educadores que procuram uma explicação para a mediocridade dos seus alunos
e para as suas próprias desilusões e a todos aqueles que se inquietam com as
hecatombes escolares e que se interrogam acerca do futuro da juventude e da
rentabilidade do sistema escolar.”
Há
quase sete décadas e à margem de profundas mudanças em processo, ainda havia
quem palestrasse e escrevesse sobre uma mítica “Escola Pública” e de uma…
“Educação do Futuro”.
.png)