Há vinte anos, por esta altura, estava prestes a partir para a margem norte do Atlântico, a visitar a minha terra. Deixava no Brasil núcleos de projeto, círculos de aprendizagem, “turmas-piloto”, protótipos de mudança, processos formativos desenvolvidos por professores, alunos e comunidades.Aproveitando aquilo que os professores eram e o que sabiam fazer (valorizando o saber “dar aula”), os participantes da formação em núcleo de projeto aprenderam a utilizar dispositivos pedagógicos, exercitaram a metodologia de trabalho de projeto, aprenderam a fazer roteiros de estudo, a conceber evidências de aprendizagem, a fazer portfólios de avaliação.
À semelhança do educando, cada educador (tutor) desenvolvia o seu projeto de reelaboração cultural, em sucessivos roteiros de estudo, que integravam as dimensões curriculares da subjetividade, da comunidade e universal. Paralelamente, haveria lugar à elaboração de roteiros de pesquisa, com objeto inicial igual para todos os grupos. Por exemplo: reconhecimento do bairro, identificação de espaços e pessoas com potencial educativo – sempre em equipe.
No 4 de abril de 1984, as nossas crianças estavam envolvidas em processos de pesquisa, buscando a origem dos nomes dos lugares onde residiam.
“Onde moras?” – quis eu saber. E o Abel respondeu:
“Na Avenida 4 de abril de 1955”.
“O que aconteceu nesse dia?” – retorqui.
“Não sei” – respondeu.
“Então, sugiro que procures saber” – E lá se foi a criança, dando início a um processo de pesquisa. Não sabia, mas iria produzir aquilo que, hoje, os especialistas chamam currículo da comunidade. iria produzir conhecimento, gerar identidade social, no diálogo com outras identidades, pois um educador nunca deveria agir sozinho... em sala de aula.
Quando, no abril de 1984, o “Roteiro de Vila das Aves” foi publicado, havia quem perguntasse por que déramos a designação de “4 de abril de 1955” a uma das ruas. Solícitos, explicávamos que aquela era a do aniversário da elevação a vila, hasteando bandeiras, celebrando a Eucaristia na Igreja Matriz e sessões solenes na Junta de Freguesia.
Na década de noventa, num processo de criação de novos municípios, cidadãos avenses reivindicaram a autonomia a que a sua terra teria direito. Pequenas e grandes traições deitaram por terra essa aspiração.
Quando participava em debates sobre autonomia, era frequente escutar:
“Dentro da minha sala de aula, fechando a porta, eu sou autônomo.”
Não é, não, caro colega! Sozinho, em sala de aula, você mostra-se autossuficiente. E, como o professor não ensina aquilo que diz, mas transmite aquilo que é, você transmite individualismo, solidão. E a sua solidão é da mesma natureza da solidão dos seus alunos. Estão todos sozinhos”
“Mas, o que fazer, se temos de estar em sala de aula?”
“Não tem, não, colega! Onde está escrito que deve trabalhar em sala de aula?”
“Está na lei.”
“Qual lei? Na Lei de Bases não está.”
Com um esgar de surpresa, lamentava-se:
“Faço o que é possível fazer!”
“Não faz, não, caro colega! Faz o que o mandam fazer.”
O sistema de ensinagem era autoritário: a maioria dos professores era conformista, resignada – em pleno século XXI, a escola da sala de aula prolongava um genocídio educacional iniciado no século XIX. Nos idos de vinte, alicerçando a sua decisão na obra do Mestre Pedro Demo, um coletivo de educadores éticos trocou a sala de aula, onde quase nada se aprendia, por espaços onde a aprendizagem acontecia.
Na cartinha de amanhã, vos mostrarei aquilo que o Mestre escreveu a propósito do “dar aula em sala de aula”.
À semelhança do educando, cada educador (tutor) desenvolvia o seu projeto de reelaboração cultural, em sucessivos roteiros de estudo, que integravam as dimensões curriculares da subjetividade, da comunidade e universal. Paralelamente, haveria lugar à elaboração de roteiros de pesquisa, com objeto inicial igual para todos os grupos. Por exemplo: reconhecimento do bairro, identificação de espaços e pessoas com potencial educativo – sempre em equipe.
No 4 de abril de 1984, as nossas crianças estavam envolvidas em processos de pesquisa, buscando a origem dos nomes dos lugares onde residiam.
“Onde moras?” – quis eu saber. E o Abel respondeu:
“Na Avenida 4 de abril de 1955”.
“O que aconteceu nesse dia?” – retorqui.
“Não sei” – respondeu.
“Então, sugiro que procures saber” – E lá se foi a criança, dando início a um processo de pesquisa. Não sabia, mas iria produzir aquilo que, hoje, os especialistas chamam currículo da comunidade. iria produzir conhecimento, gerar identidade social, no diálogo com outras identidades, pois um educador nunca deveria agir sozinho... em sala de aula.
Quando, no abril de 1984, o “Roteiro de Vila das Aves” foi publicado, havia quem perguntasse por que déramos a designação de “4 de abril de 1955” a uma das ruas. Solícitos, explicávamos que aquela era a do aniversário da elevação a vila, hasteando bandeiras, celebrando a Eucaristia na Igreja Matriz e sessões solenes na Junta de Freguesia.
Na década de noventa, num processo de criação de novos municípios, cidadãos avenses reivindicaram a autonomia a que a sua terra teria direito. Pequenas e grandes traições deitaram por terra essa aspiração.
Quando participava em debates sobre autonomia, era frequente escutar:
“Dentro da minha sala de aula, fechando a porta, eu sou autônomo.”
Não é, não, caro colega! Sozinho, em sala de aula, você mostra-se autossuficiente. E, como o professor não ensina aquilo que diz, mas transmite aquilo que é, você transmite individualismo, solidão. E a sua solidão é da mesma natureza da solidão dos seus alunos. Estão todos sozinhos”
“Mas, o que fazer, se temos de estar em sala de aula?”
“Não tem, não, colega! Onde está escrito que deve trabalhar em sala de aula?”
“Está na lei.”
“Qual lei? Na Lei de Bases não está.”
Com um esgar de surpresa, lamentava-se:
“Faço o que é possível fazer!”
“Não faz, não, caro colega! Faz o que o mandam fazer.”
O sistema de ensinagem era autoritário: a maioria dos professores era conformista, resignada – em pleno século XXI, a escola da sala de aula prolongava um genocídio educacional iniciado no século XIX. Nos idos de vinte, alicerçando a sua decisão na obra do Mestre Pedro Demo, um coletivo de educadores éticos trocou a sala de aula, onde quase nada se aprendia, por espaços onde a aprendizagem acontecia.
Na cartinha de amanhã, vos mostrarei aquilo que o Mestre escreveu a propósito do “dar aula em sala de aula”.