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Mostrando postagens de julho, 2025

São José d’Imbassaí, 31 de julho de 2045

Não “choremos sobre leite derramado”, falemos sobre possibilidades de Mudança, começando pelo “caminho das pedras” da Escola da Ponte. No julho de vinte e cinco, mãos amigas me encaminharam a reação a uma notícia veiculada pelo Facebook: “Acabo de receber o relatório de avaliação externa da Escola da Ponte. A escola foi detalhadamente avaliada por uma equipa da Inspeção Geral da Educação e Ciência (IGEC) durante cinco dias e o resultado é "Excelente"! Este projeto iniciado por José Pacheco há muitos anos em Vila das Aves, prossegue o seu caminho de inovação e suscita sempre duas perguntas: "Porque sim?" e "E porque não"? Bravo a toda lúcida, ética e corajosa equipa da Escola da Ponte que recebeu das mãos do José Pacheco, da Anita, da Geni, uma herança que não para de valorizar. Bravo a todos os Orientadores Pedagógicos, famílias, alunos, Conselho de Gestão. Todos, todos! Parabéns, "excelente" Escola da Ponte!” No ano letivo iniciado no setembro d...

São José do Imbassaí, 30 de julho de 2045

E vamos ficando por aqui nas considerações que a BNCC merecia… havíamos chegado ao cúmulo do disparate. No Instagram e Facebook, poderíamos ler anúncios deste tipo:  “Quer economizar tempo e aumentar a sua renda? A BNCC te enlouquece? Cansou de tanto tentar e não conseguir? Temos a solução!  Você irá receber planejamentos para-o berçário, pré-escola e educação infantil. Aulas prontas para professores. É só adquirir abrir e utilizar.  Garanta o preço promocional. Planos de aula prontos de 167 reais por 67,90”. Numa sugestiva imagem internética, uma jovem falava ao ouvido de outra jovem: “Amiga, eu encontrei planejamentos anuais de aulas prontos. Faça a diferença na vida dos seus alunos!”.  Havia quem comprasse tais produtos, pois secretários, diretores e supervisores aprovavam a compra. Abutres fossando na carcaça de um velho modelo educacional tentavam disfarçar a sua obsolescência, recorrendo a propaganda enganosa:  Outro fenómeno recorrente é o do “transbordam...

Barra de Maricá, 29 de julho de 2045

A BNCC era uma lei necessária, indispensável até, mas aquela que foi aprovada em dois mil e dezassete não concretizaria a intenção de combater a desigualdade, nem contribuiria para alterar significativamente os péssimos indicadores de qualidade da educação  Alguns anos antes, Pedro Demo publicara um ensaio com o título “EDUCAÇÃO À DERIVA”, uma análise profunda das causas e consequências da manutenção (palavras suas) do “instrucionismo como patrimônio nacional”. Manifestava surpresa pelo contraste entre haver tanto diagnóstico disponível e se manterem péssimos desempenhos.  No ensino médio, o aprendizado de matemática era insignificante: 9.1% em 2017. Isto é: 90% dos estudantes não aprendiam. “No Enem, apenas 53 estudantes obtiveram nota máxima em redação, dentre 4 milhões de participantes; quase ninguém”.  Assente numa rigorosa fundamentação, o mestre assim concluía, dizendo: “parece que a escola que temos é modelo intocável, acima das ideologias”. Quando abordava a situa...

Santa Paula 28 de julho de 2045

Escutemos uma voz atenta e autorizada, tecendo algumas considerações sobre a BNCC: “Enquanto não falta aula, aprendizagem é apenas eventual. A BNCC, que, em termos concretos, é apenas um repositório de conteúdos curriculares organizados conforme alguma lógica acadêmica e didática, não pode recriar a escola, por mais que isto solicite. Também não muda os professores, condição maior para termos “outra escola”.  Os conteúdos, devidamente codificados alfanumericamente (para que nenhum escape ao controle instrucionista), serão, provavelmente, transmitidos como sempre foram, porque é isto que o sistema, ao final, exige, não aprendizagem, e mormente porque os professores foram “deformados” para este tipo de atividade instrucionista na faculdade. “Recriar a escola” é empreendimento frontalmente imenso e complexo, embora fosse o que mais parece decorrer dos diagnósticos disponíveis, mesmo com base em dados do Ideb ou PISA, por serem tais avaliações também propensamente instrucionistas”. O g...

Cassorotiba, 27 de julho de 2045

Nos idos de vinte, vivíamos um tempo marcado por uma modernização de racionalidade técnica, burocrática, industrial, numa sociedade da informação caraterizada pela solidão e o individualismo. Políticos e “especialistas” acrescentavam camadas de tinta nova em velhos palimpsestos. Não entendiam que os projetos emergiam de sonhos, desejos, necessidades e que deveriam ser as comunidades as protagonistas de projetos de desenvolvimento humano sustentável.  Se bem que a obsessão uniformizadora e seletiva da escola viesse sendo questionada por esses “especialistas”, a maioria não fazia ideia alguma de como contribuir para a saída do caos. Aqueles que influenciaram sucessivos elencos ministeriais e conduziram a política educativa ao desastre evocavam ciências fósseis da educação. Fazendo teorização de teorias mal digeridas e jamais praticadas, alguns “iluminados” contribuíram para lançar um estigma sobre as ciências da educação.  Gestores escolares continuavam a assumir cargos por indi...

Cajueiro, 26 de julho de 2045

No processo de elaboração de uma base curricular, sempre houve disciplinas consideradas “nobres” – o “back to basic”. Mas, por que razão se dava a designação de “Arte” a uma disciplina? Não se deveria considerar as Artes Visuais, ou a Educação Musical, no lugar da disciplina “Artes”? E alguém ouvira falar de currículo subjetivo, de uma tripla dimensão curricular?  A formação de professores pressuposta no “Guia de Implementação da BNCC” reforçava os vícios da formação inicial, convidava a que, em sala de aula, os professores continuassem a consumir um currículo “pronto a vestir”.  Desenvolvimento curricular deveria constituir produção de conhecimento, não consumo acéfalo de informação proveniente do discurso de um professor ou de um manual didático. Urgia substituir um currículo pronto-a-vestir por um currículo tridimensional – subjetivo, comunitário e universal.  Currículo não é mero repositório de competências, é um conjunto de experiências, vivências, que convergem para...

Caxito, 25 de julho de 2045

(continuação) O termo “palimpsesto” tem origem no grego antigo - "aquilo que se raspa para escrever de novo", um pergaminho ou papiro cujo texto foi eliminado para permitir a reutilização. Na Idade Média, sobretudo entre os séculos VII e XII, devido ao elevado custo do material, quando o rei ou senhor feudal pretendia publicar nova lei, mandava passar cal sobre o pergaminho ou papiro, para tapar a antiga lei. E a nova lei era escrita sobre a cal seca. Porém, exposta à chuva e ao vento, a cal caía e só ficava escrita e exposta no documento… a lei antiga. No Brasil, abriu-se uma consulta pública de um documento previamente elaborado. Colhidas milhares de sugestões de alteração – quase todas fundadas no senso comum – e de vinte e sete mil pedidos de inclusão de novos objetivos, uma BNCC cativa do velho modelo escolar foi promulgada.  Acompanhei a elaboração da BNCC e participei em duas audiências públicas, que tinham como lema “BNCC: desafios para a implementação e combate às de...

Itaipuaçu, 24 de julho de 2045

Nos idos de vinte e cinco, participei de um evento criado por boa gente, para avaliação do desempenho da Base Nacional Curricular Comum brasileira. Quem tivesse participado em eventos afins, saberia que eu não fazia “palestra”, que eu fazia perguntas, escutava atentamente respostas, dialogava. Mas, naquela circunstância – uma Conferência – eu deveria fazer o que me fora solicitado:  “O palestrante terá o tempo de 30 minutos para fazer sua apresentação. Após a apresentação do palestrante, algumas perguntas serão selecionadas do Chat e direcionadas para resposta do palestrante. Ao final, o Mediador abre a palavra para as Considerações Finais do palestrante, o qual terá o tempo de 3 minutos”.  Esse era o formato comum de palestra. E o aceitei; não perguntei “o que quereis saber?”… entrei no âmbito do assunto. Pensei fazer uma abordagem histórica e um esboço de “enquadramento teórico”, porém, na intervenção que a minha intervenção precedeu, a Jaqueline foi perfeita nesse tipo de a...

Jardim Interlagos, 23 de julho de 2045

Mais um obstáculo vos apresento, uma espécie de “pout pourri” de dificultosos óbices à Mudança e à Inovação: a normose da opinião Pública, de certas famílias, de fundamentalismos pedagógicos e religiosos e até de alguns professores e alunos do dito “ensino superior”. A memória é esperta, vai apagando registos de ignomínia e corremos o risco de total esquecimento do que acontecia, vinte anos atrás. “A diretora de uma escola da Flórida foi forçada a renunciar depois que um pai reclamou que alunos da sexta série foram expostos à "pornografia" durante uma aula sobre arte renascentista que incluía a escultura David, de Michelangelo. A pobre diretora não resistiu à campanha de difamação e renunciou ao cargo após o ultimato do presidente do conselho escolar. Um pai reclamou que o material era pornográfico e dois outros disseram que queriam ser notificados sobre o conteúdo das aulas, antes que elas fossem dadas a seus filhos. Em entrevista ao site Slate, Barney Bishop, presidente do ...

Araçatiba 22 de julho de 2045

“Oi! Tudo bem? Ontem, na sala de aula, pedi aos alunos que respondessem a perguntas, nuns papéis que lhes entreguei. Dentre elas, o que queriam aprender.  Alguns disseram nada, outros disseram matérias como história, matemática, português, cópia, ditado, porcentagem, fração...  Gostaria de uma ajuda sobre como proceder. Muito obrigada”. Ajudei como pude ajudar essa professora surpreendida com as reações dos seus alunos, quando começou a fazer perguntas que, desde sempre, deveriam ser feitas. Tomou consciência de que os seus alunos “Nota 10” estavam doentes de conformismo, de normose, estavam escolarmente domesticados.  Se lhes perguntasse o que gostaria de saber, ou fazer (dois dos pilares da educação estabelecidos pela UNESCO) responderiam: “Eu posso dizer o que quero saber e o que quero fazer?” Já não faziam perguntas, nem sabiam o que responder. A curiosidade infantil se esvaíra. Já tinham escutado milhares de respostas a perguntas que nunca tinham feito. E, se lhes fo...

Cordeirinho, 21 de julho de 2045

  … E o debate teórico definhava face à normose instituída. Num encontro virtual realizado há uns vinte anos, assumi o compromisso de acompanhar educadores éticos na criação das então chamadas “turmas-piloto”. Iria voltar ao chão da escola, ser tutor por mais um ou dois anos. Iria assistir a uma “reeducação axiológica”, dado que a cultura é um sistema vivo de valores.  A Lei de Bases dizia-nos que a educação era dever da família, da sociedade e do Estado, através da Escola. Inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, a lei reafirmava que a educação tinha por finalidade o pleno desenvolvimento do educando.  Decorridas muitas décadas sobre a data da sua publicação, ainda lidávamos com os efeitos do analfabetismo funcional, com a exclusão escolar e social e com outras manifestações de subdesenvolvimento educacional. O rendimento escolar mantinha-se num nível muito baixo e era um dado preocupante, dado que a maiores investimentos, à introdução ...

Pilar, 20 de julho de 2045

Chegou a vez de vos falar do quarto obstáculo: a “Normose”. Na Ponte de há quase meio século, dávamos boas aulas, bem planejadas, bem apoiadas em materiais e... não conseguíamos perceber por que razão havia alunos que não aprendiam. Compreendemos que precisaríamos mais de interrogações do que de certezas.  Mas, ao que parece, ainda há quem padeça de uma estranha normose. Eis o que aconteceu, no decurso de um seminário - deparei com um grupo de professores cheios de certezas. Perguntaram-me por que razão, estando eu aposentado, vivo envolvido em múltiplos projetos. que somos seres incompletos, cativos da freireana incompletude. Quiseram saber qual o projeto em que, naquela altura, eu estava envolvido. Disse-lhes que estava empenhado em ajudar a criar uma rede de comunidades de aprendizagem. Insistiram:  E, quando conseguir concretizar esse projeto, para definitivamente? Disse-lhes que jamais pararia. E o que vai fazer? Espero entrar em mais algum projeto. Qual? Talvez um proj...

Jardim Atlântico Leste 19 de julho de 2045

Na Maricá, perto do lugar onde Darcy viveu os seus últimos dias, o dia 19 de julho de há vinte anos marcou o reinício do projeto “Praticar Darcy”, integrando o que, erradamente, o “Sistema que sustentava a crise” separava: a Família, a Sociedade e a Escola. Não iludíamos os obstáculos, mostrávamos possibilidades – tratava-se tão só de um apelo a decência, de uma contribuição para a regeneração do “sistema que sustentava a crise”, uma simples prática de humanização do ato de aprender e de ensinar. O convite à participação nesse ato cívico rezava assim: “Convidamos os educadores de Maricá para “Praticar Darcy”, fazendo “uma Ponte” em Maricá. No dia 19 de julho, entre as 14 e as 17 horas, na Barra de Maricá, será realizada uma “residência pedagógica” com crianças, jovens e adultos participantes da Colónia de Férias da Associação Art7. Trata-se de uma efetiva INOVAÇÃO, que partilhamos com os educadores de Maricá.” A “crise” que Darcy disse ser um “projeto” prolongava-se, indefinidamente. O...

Comburi, 18 de julho de 2045

(continuação) De modo retórico, o Filipe questionava: “A lei é provavelmente tão clara e tão subjetiva quanto pode ser. O que é que invalida existir três professores com 11 alunos num espaço de aprendizagem, sendo que cada um tem um roteiro de pesquisa individualizado, um plano individualizado e metas curriculares individualizadas e trabalham autonomamente?” Mas os advogados consultores ao serviço do Ministério não tinham dúvidas quanto à ‘clareza da lei” – Ignorante das coisas da pedagogia, “o sapateiro subia acima do chinelo”:  “Parece evidente que a lei exige que as aulas sejam dadas a um único aluno num determinado espaço e a uma determinada hora, o que não se coaduna com uma aula coletiva ou com uma aula em que estão presentes vários alunos no mesmo espaço e no mesmo horário todos eles orientados pelo mesmo professor, apenas tendo cada aluno uma parte da atenção do professor. Mesmo que o professor alegue que trabalha com cada aluno individualmente, o facto é que o professor se...

Ubatiba 17 de julho de 2045

A Raquel e a Carla foram convidadas pela Câmara Municipal de Idanha-a-Nova para um projeto de ensino que estava a deixar a isolada vila de Monsanto em polvorosa. A Escola Básica da Relva tinha apenas 11 alunos, tendo sido encerrada pelo Ministério da Educação no final do ano letivo anterior. As crianças foram matriculadas na EB de Idanha-a-Nova, a 30 quilómetros de distância da vila. Os pais ficaram em choque e opuseram-se à decisão.  A Câmara Municipal apresentou uma providência cautelar contra o fecho da escola, aguardando resposta do Tribunal. Os encarregados de educação procuraram alternativas e encontraram na lei uma solução que parecia resolver o problema: o ensino individual. Pediram apoio à Câmara, que pôs o complexo escolar reabilitado à disposição dos pais e prometeu ajudar, contratando professores e promovendo contatos com outras iniciativas de ensino livre e individual. Desde setembro, os 11 alunos eram acompanhados por duas professoras pagas pela Câmara Municipal. Mas,...

Condado de Maricá 16 de julho de 2045

Continuemos por Monsanto, escutando as autoras do projeto. “Vamos ao encontro da vivência de cada um. Os alunos andam mais motivados. Há uma ligação de amizade. Não têm tanta vergonha e há mais partilha e conhecimento”, diz Raquel.  Para Carla, “é mais fácil ver a criança como um ser e percebê-la mais a fundo”. Eles vêm mecanizados do ensino normal. Quando lhes perguntávamos o que queriam fazer, ficavam a olhar para nós.  “Querem que mandem neles”, diz Raquel. E Carla confirma: “Os nossos meninos ainda não conseguem dizer que querem fazer isto ou aquilo”. Mas, há alguns avanços: já vai chegando a um ponto em que nos pedem mais matéria. Na matemática os meninos do 1º ano estão a trabalhar matérias que geralmente se dão em fevereiro. Mas eles pedem. Aproveitamos a curiosidade deles para avançar”. “E cabe aos pais decidirem os dias de descanso das crianças nas épocas em que tradicionalmente se fazem interrupções letivas. Há um diálogo constante com os pais, que estão preocupados”...

Praia de Itaipuaçu 15 de julho de 2045

Quando algum professor me dizia levar a comunidade para a escola, ou que a sua escola fazia visitas à comunidade, eu perguntava:  Acaso visitas a tua casa, ou moras nela? Uma escola é um nodo de uma comunidade e o projeto de Monsanto era, claramente, uma comunidade. Prossigamos o acompanhamento de alunos e professores, no reconhecimento do seu território. O destino era o Posto de Turismo, onde os alunos seriam esperados pelo cheiro de azeite quente e por uma mesa onde se encontrava um alguidar, uma batedeira elétrica, uma tigela com ovos, dois pacotes de farinha, um pacote de açúcar, um pequeno pacote de leite, um copo com aguardente e outro com azeite.  Uma mulher de avental, cabelo bem-apanhado e desviado do rosto recebe-os e, de imediato, pede-lhes que lavem bem as mãos e arregacem as mangas. Depois, diz-lhes que vão fazer argolas mimosas. A professora Raquel pega num copo medidor e pergunta aos alunos se este serve para tudo. Bruna, 15 anos, responde:  “Só para os líq...

Recanto de Itaipuaçu 14 de julho de 2045

Nos idos de vinte, lideranças tóxicas da administração, da gestão e da direção das escolas se constituíam em sério obstáculo à Mudança, um obstáculo bem difícil de ultrapassar, criado por um sistema hierárquico a que se juntava uma autoritária regulamentação da lei, como se verá neste breve “estudo de caso”. No final de um ano letivo, com assiduidade plena e significativas aprendizagens realizadas, os alunos da escola de Monsanto “reprovaram por excesso de faltas”. Eu sei que parece mentira, mas aconteceu. O sistema impunha práticas desprovidas de fundamento científico, ou mesmo legal. Ousavam tomar insanas decisões, como o despropósito da reprovação por excesso de faltas, porque incutiam medo nas famílias dos alunos e contavam com o obsceno silêncio dos áulicos das ciências da educação.  A que faltas se referiu o ministério, dado que os alunos estiveram em situação de ensino doméstico dentro de um edifício a que o ministério chamava “escola”? Conseguiria o ministério explicar por ...

Itaocaia Valley 13 de julho de 2045

E chegou o momento de vos falar do terceiro obstáculo à mudança. A Constituição e a Lei de Bases nos diziam que a Educação era um direito subjetivo, inalienável, era um direito de todos. Mas, ano após ano, o Sistema condenava milhares de alunos à ignorância, ao insucesso pessoal e social. – o modelo educacional imposto pela Administração do Sistema era a principal causa de “abandono intelectual”.  O Reino da Educação não era pobre em regulamentação, mas era uma regulamentação que manifestava caráter técnico-instrumental, continha laivos de uma racionalidade burocrática, instrucionista. Na prática e em contradição com o discurso, rejeitava-se a ideia de que as escolas poderiam constituir-se em espaços coletivos de criação de novas realidades. Por força de atavismos e vícios, todas as escolas deveriam ser “iguais à face da lei”. E até onde nos conduziria essa pretensa “igualdade”? Na busca de “resultados”, escolas particulares antecipavam as férias, “para que os professores pudessem ...

Cajueiros, 12 de julho de 2045

Trago-vos mais uma carta datada de 2025: “Maricá, 11 de julho de 2025. Uma semana decorrida sobre o seu falecimento, evoco a memória de um dos maiores educadores brasileiros, de um amigo gaúcho que, num evento realizado em sua homenagem, assim se manifestava: “Educação é uma coisa complexa. Não é o que o povo pensa, que basta pôr toda a gente numa sala de aula”. Danilo Gandin era um desses educadores, que amam aqueles que dizem e fazem o que é preciso que se diga e se faça.  Era contrário ao uso de livro didático, porque “a didática infantilizava os professores”. Defendia uma mudança radical na forma como as escolas tratavam os seus alunos, a partir de um projeto político-pedagógico onde o autoritarismo e o conteúdo voltado para o vestibular não tivessem lugar. Era contrário à imposição do vestibular, que continuava sendo mero um instrumento de darwinismo social. Danilo Gandin era uma das vozes mais autorizadas e esclarecidas no campo da educação, uma voz necessária no meio do ruíd...